Três anos de ‘Aliança pelo Cicloturismo’
A contagem sistemática dos cicloturistas em rotas tradicionais do Brasil chega ao seu terceiro ano com a nova medição no Caminho da Fé, relatório que será publicado nos próximos dias. O projeto é uma ideia que nasceu em um Grupo de Trabalho da Aliança Bike e vem ganhando cada vez mais importância para o desenvolvimento sustentável do setor no país.
“A ideia dos contadores nasceu da necessidade de sairmos do âmbito da percepção sobre os cicloturistas. E, com isso, compreender de fato, o quantitativo de cicloturistas que estão realmente utilizando as rotas de cicloturismo pelo país. Estes dados saem do ‘achismo’ e são importantes para expor o tamanho da demanda para órgãos públicos e iniciativas privadas, além de orientar os tomadores de decisão”, diz Luiz Saldanha, diretor-executivo da Aliança Bike.

Rota do Ferro é um dos circuitos monitorados anualmente (Divulgação)
Inspirados por referências internacionais, como França e Canadá, que utilizam contadores eletrônicos para monitorar o fluxo de visitantes, a iniciativa brasileira nomeada de Aliança Pelo Cicloturismo, envolve também a Sacis/Eco-Counter – detentora da tecnologia – a Rede Trilhas, o Observatório do Cicloturismo/Planett e os responsáveis pela gestão consolidada de cada rota investigada.
APOSTA DA ALIANÇA BIKE
O contador eletrônico foi adquirido pela Aliança Bike e transita por algumas das mais importantes rotas do país levantando números inéditos sobre a atividade no Brasil. Além do Caminho da Fé, ele mensura estrategicamente o Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu, a Floresta Nacional de Brasília, a Volta das Transições e a Rota do Ferro.
“A ideia inicial era cobrir mais regiões do Brasil. Mas isso se mostrou complexo com apenas um contador disponível”, diz Saldanha. Em cada local, o contador monitora os ciclistas por ao menos 30 dias e, além disso, há uma necessidade de instalar, desinstalar e deslocar o equipamento em cada cidade.

Volta das Transições precisou de ajustes no local de contagem para melhor análise dos dados (Divulgação)
“Por exemplo, a Trilha Amazônia Atlântica (PA) teve ótimos avanços nas articulações para que fosse possível o monitoramento em seu percurso, mas a logística para levar o equipamento até o Pará foi um enorme entrave para o projeto”. No Nordeste, em contraponto, não houve no momento das tomadas de decisão para definição das rotas um destino com “governança consolidada de cicloturismo para garantir o uso do equipamento”.
POTENCIAL ESTATÍSTICO
A criação de uma rede de monitoramento contínuo favorece a realização de análises mais detalhadas, contribuindo para o fortalecimento do cicloturismo brasileiro. “Para avançar, é fundamental ampliar o número de rotas monitoradas, capacitar profissionais do setor, incentivar a conectividade entre diferentes elementos do turismo e promover pesquisas qualitativas que aprofundem o entendimento sobre o perfil dos cicloturistas. O potencial para ainda ser explorado é enorme. Os gestores destas e de outras rotas entenderem esse valor é o mais importante para o futuro do projeto”.

A terceira contagem no Caminho da Fé traz expectativas sobre o crescimento (Divulgação)
O impacto do monitoramento do Caminho da Fé já abriu as portas da Aliança Bike para outros projetos na rota, focados na segurança dos ciclistas. Ao mesmo tempo, que o valor de uma série histórica de contagem pode detectar tendências, impactos de feriados móveis e períodos de maior ou menor fluxo.
“Esse esforço contínuo é essencial para que o Brasil possa não apenas crescer em quantidade de cicloturistas, mas também garantir uma experiência de qualidade, sustentabilidade e valorização das regiões visitadas. Assim, o monitoramento consistente e estratégico se consolida como uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento do setor no país”.
Resumo de cada um dos cinco casos
Caminho da Fé (SP/MG)
Esta rota é a que apresenta as maiores contagens de ciclistas e com um fluxo crescente. Os números analisados deixam claro o impacto dos feriados, pois, normalmente, exige um tempo maior para percorrer todo o trajeto. Os dados permitem uma contraposição ao quantitativo de passaportes emitidos.

Vale Europeu: uma das melhorias é cruzar os dados do contador com os passaportes
Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu Catarinense (SC)
Prestes a comemorar 20 anos de criação, o Vale Europeu tem seu contador baseado no primeiro dia proposto pelo Circuito. Nas duas primeiras passagens, os eventos ciclísticos e os feriados foram facilmente notados nas estatísticas, indicando o potencial do local.
Saiba mais 1
Floresta Nacional de Brasília (DF)
Este foi um dos circuitos que encontramos dificuldades. Os números altíssimos da primeira contagem empolgaram, mas os incêndios na Floresta prejudicaram a realização da segunda edição.
Volta das Transições (MG)
Neste monitoramento, foi necessário ajustar o posicionamento do contador, pois o local inicial estava sendo influenciado pelo uso diário de ciclistas na região.

Rota do Ferro apresentou números no 3º Congresso Brasileiro de Trilhas
Rota do Ferro (MG)
Com dois monitoramentos concluídos, a Rota do Ferro notou picos influenciados por grandes eventos, mas também um uso consistente do caminho por ciclista durante os dias de semana. Exemplifica também outro projeto da Aliança Bike, o “Trilhas sobre Trilhos”