Conheça os principais modelos de bicicletas cargueiras
As bicicletas cargueiras vão dominar a paisagem das cidades. As entregas mais eficientes já mostraram seu valor ao redor do mundo. Na Europa, a popularização das bicicletas voltadas para o transporte de produtos e passageiros receberam um grande incentivo durante a pandemia.
Diante da grande diversidade de modelos e possibilidades, essa edição do Bicicleta News Especial traz novos e consagrados modelos de bicicletas e triciclos de carga.Entre a tradição e inovações, pequenas empresas, principalmente na Europa, têm trazido avanços ao mercado e mostram o caminho para o futuro.
Carga, destaque na Eurobike
Maior feira do mercado de bicicletas fora da Ásia, a Eurobike 2021 teve como um dos destaques a ciclogística e as bicicletas e triciclos de carga. Enquanto fabricantes de equipamentos automotivos marcaram presença, marcas novas trouxeram soluções para carga.
A Urban Arrow é uma das novas forças no mercado de cargas movidas a pedal. Apostam tanto nos modelos tradicionais, como na eletrificação. Na visão de Henning Thomas, executivo de vendas da marca, a revolução da ciclologística é parecida ao que aconteceu com as bicicletas elétricas nos últimos anos.
Na Europa, as bicicletas e triciclos de carga se popularizaram nas últimas décadas como opção para o transporte de crianças. Atualmente a nova revolução é no uso urbano desses veículos para entregas porta a porta.
As cargueiras paulistanas
Triciclos e bicicletas são parte da paisagem de cidades brasileiras há muitos anos. Os veículos são soluções de baixo custo e operam em um mercado que acaba sendo invisível para as grandes marcas, sejam as nacionais ou, principalmente, importadores.
Um exemplo de pequena indústria é a Bicicletas Galileus, fabricante de triciclos cargueiros e também de kits de bicicletas cargueiras. Ambos os projetos são antigos e soluções robustas, mas que são vendidas apenas no mercado local.
Além das Bicicletas Galileus, Paulo Renato Krasucki é membro da terceira geração à frente da Casa de Bicicletas Alberto em São Paulo. Foi justamente através da loja que descobriu o mercado das cargueiras e triciclos. Para atender aos depósitos de água e outras pequenas empresas que utilizam a bicicleta no centro da capital, revendia os veículos.
A decisão de fabricar foi um caminho natural, o antigo proprietário não era do ramo da bicicleta e fez uma oferta de venda vantajosa. Na prática, enquanto Paulo estiver à frente da bicicletaria da família, os triciclos e cargueiras irão bater na porta.
Com uma caixa em forma de gaiola sobre um feixe de molas, os modelos tradicionais de triciclos têm capacidade de carga e resistência. Pelas ruas de São Paulo, é comum ver modelos com mais de 30 anos de uso, com soldas e remendos, mas a estrutura segue firme. As bicicletas cargueiras, menos resistentes, têm tempo de uso nas ruas menor e, também por isso, acabam sendo vendidas em maior número.
A Athor Bikes, fabricante de quadros e montadora de bicicletas localizada no interior de Minas Gerais, é outra empresa com tradição na produção em escala de bicicletas cargueiras. Além das “barra-fortes” que saem de sua linha de produção, as cargueiras de aço são bastante conhecidas na paisagem urbana de praticamente todas as cidades brasileiras. Vale a pena ver o “unboxing” da Renata Falzoni de uma cargueira da Athor:
Cargueiras estilo long john
Nos anos 1930 e 1940, um tipo de bicicleta cargueira dominava as ruas europeias. Entre eixo longo, uma área de carga grande entre o guidão e a roda dianteira. São uma versão estendida das “short john” tão comuns nas ruas brasileiras.
Para fazer curvas nas long john, um eixo móvel faz girar a roda dianteira, que é sempre menor que a traseira. O peso da carga fica concentrado mais perto do chão, o que facilita a condução, mas exige alguma prática.
Com a popularização das camionetes e furgões durante o século XX, as long john quase caíram no esquecimento. Atualmente vivem um novo boom de popularidade, feitas de materiais mais leves e com componentes modernos.
Trailers de carga para bicicletas
Outra forma simples de aumentar a capacidade de carga das bicicletas, são os trailers. São fáceis de fazer e capazes de serem acoplados em qualquer bicicleta, os modelos permitem um número quase infinito de possibilidades.
É possível usá-los como complemento em uma viagem de cicloturismo, para o transporte de crianças ou até mesmo para carregar uma mudança completa dentro da cidade.
O premiado triciclo dinamarquês
Uma fabricante tradicional de triciclos dinamarquesa nasceu em um bairro projetado para não ter carros. A Cidade Livre de Christiania nasceu em setembro de 1971, em uma antiga base aérea dinamarquesa de apenas 34 hectares. Trata-se de um enclave autônomo dentro da cidade de Copenhague. O bairro funciona quase como um país independente, com leis próprias e uma certa liberdade junto ao Estado dinamarquês..
Foi justamente em Christiania que, em 1978, o ferreiro Lars Engstrøm começou a fabricar trailers de carga inspirados em modelos da Segunda Guerra para atender aos vizinhos.
A revolução dos triciclos, no entanto, aconteceu somente em maio de 1984. Foi quando Lars deu de presente para sua esposa Annie um modelo artesanal de triciclo movido a pedal. A idéia era facilitar o transporte de crianças, já acostumadas a irem sentadas nos trailers que Lars fazia e os moradores do bairro apreciavam.
Logo os vizinhos e ciclistas de toda a cidade passaram a encomendar um modelo igual ao feito por Lars para sua esposa. Hoje o casal vende seus veículos por toda a Europa.
Cargueiras reclinadas
A demanda por serviços de logística no último quilômetro, as entregas feitas na porta dos consumidores, tem sido um fator para popularização das bicicletas cargueiras. O grande sucesso entre operadores logísticos são os triciclos reclinados, com o ciclista sentado à frente e uma caixa atrás.
Esses modelos se tornaram ainda mais eficientes com a adoção da motorização elétrica. Os triciclos cargueiros são muito mais baratos do que comprar uma van e circular com facilidade em grandes centros urbanos, espaços onde veículos motorizados têm sofrido cada vez mais restrições.
O futuro da ciclogistica no Brasil
No Brasil, o mercado de bicicletas e triciclos de carga já demonstra avanços e que irão popularizar cada vez mais a ciclologística nas cidades brasileiras.
No Rio de Janeiro, a prefeitura e outros parceiros trabalham para consolidar a ciclologística como o principal meio de distribuição de bens e produtos na região central. O projeto se chama “Distrito Neutro” e é um esforço da municipalidade para implementar o primeiro bairro livre de emissões.
Já a cidade de São Paulo aprovou em 2020 a primeira lei no Brasil que cria a política municipal de ciclologística, cuja regulamentação até hoje não foi publicada pela prefeitura. Ainda assim, como parte do esforço de incentivar as entregas movidas a pedal, em 14 de dezembro de 2021 vai acontecer o “Dia C de Ciclogística”. Trata-se de uma feira no Balcão ZL que contará com exposição de veículos, balcão de empregos, apoio para abertura de empresas e debates e palestras com foco no impacto sócio-econômico da logística urbana sustentável. O evento é organizado pelo Instituto Aromeiazero, Banco Mundial e Scambo.
No horizonte, o plano de criar em São Paulo um hub ciclologístico, uma integração entre veículos pesados e bicicletas para facilitar as entregas limpas e movidas a pedal na cidade. Uma solução que já acontece nas grandes capitais européias, utilizando os diferentes modelos de bicicletas e triciclos.