Bicicletas de carga ganham espaço nas ruas com o aumento no e-commerce
As bicicletas e triciclos de carga são uma solução bastante comum nas cidades ao redor do mundo. Seja para o transporte de pessoas ou para pequenos e grandes volumes. Apesar de todas as suas qualidades, durante muitos anos as cargueiras foram renegadas, mas esse movimento tem sido corrigido.
Grandes empresas de logística, em especial na Europa, têm adotado a bicicleta de carga para entregas nos grandes centros. Dois motivos impulsionam a mudança, restrições de circulação para veículos poluentes nos grandes centros e a eficiência da bicicleta no trajeto mais caro e mais complicado de qualquer entrega, o último quilômetro.
História das bicicletas de carga
A invenção da bicicleta de carga como a conhecemos hoje é atribuída a James Starley, o pai da indústria da bicicleta. Em 1877, Starley projetou três modelos de bicicleta para o transporte de pessoas ou mercadorias. Os protótipos eram veículos pesados, com pouca capacidade de carga e sem uma série de equipamentos necessários para carregar peso em um veículo movido a pedal.
Também foi James Starley que desenvolveu e popularizou as “Penny Farthing”, as bicicletas com rodas dianteiras gigantes e capazes de grandes velocidades. Mas foi um modelo criado pelo sobrinho de James, John Kemp Starley, que popularizou as bicicletas. John e seu sócio William Sutton criaram o modelo Rover, uma “bicicleta de segurança” com rodas do mesmo tamanho e corrente de transmissão.
Foi justamente a corrente de transmissão que tornou as bicicletas cargueiras uma solução capaz de levar mais carga. A corrente tornou redundante a transmissão direta às rodas e criou liberdade no posicionamento do condutor e da carga. As rodas poderiam ser menores. Carregar cargas tornou-se energeticamente interessante, embora inicialmente ainda fosse uma cesta ou caixa.
Bicicletas de carga no Brasil
Nas cidades brasileiras, as bicicletas de carga sempre foram uma solução de baixo custo e alta eficiência. Sejam as famosas bicicletas dos correios, ou grandes triciclos cargueiros utilizados em cidades litorâneas ou regiões planas de grandes centros.
O crescimento no e-commerce, ainda maior por conta da pandemia, representa um novo momento para as bicicletas de carga no Brasil. Um estudo lançado em fevereiro deste ano pela Aliança Bike, LABMOB e GIZ identificou as principais motivações para grandes embarcadoras e operadoras logísticas adotarem a bicicleta. A conexão da imagem da empresa com a sustentabilidade, a redução da emissão de poluentes e a economia no custo das entregas foram as principais motivações indicadas. Cosméticos, roupas e alimentos são os produtos com maior volume de entregas realizadas com bicicletas convencionais e cargueiras por estas grandes empresas.
Com uma van elétrica custando cerca de R$ 200 mil, contra cerca de R$ 90 mil de uma convencional com motor a combustão, as bicicletas cargueiras são também um investimento financeiramente inteligente.
Interesse por bicicletas cargueiras se traduz em vendas
Quem tem aproveitado o novo boom de interesse pelas cargueiras é a Dream Bike. Com uma linha de veículos a pedal bastante diversificada, fabricando desde quadriciclos para passeios em parques até foodbikes, a empresa sentiu o aumento no interesse.
André Ribeiro, diretor executivo da Dream Bike, comemora a nova tendência. A procura por bicicletas e triciclos cargueiros dobrou. E as vendas aumentaram tanto para novos clientes, quanto para antigos parceiros.
Os compradores de bicicletas e triciclos cargueiros vão desde lavanderias de bairro, interessadas no baixo custo e eficiência da bicicleta, até gigantes do varejo, interessadas em se associarem à bicicleta.
A adoção de triciclos e bicicletas cargueiras pelas grandes empresas no entanto vem através de uma caminho curioso. Em geral, é o departamento de marketing que convence o setor de logística a adotar a bicicleta. O benefício que os pedais trazem para as entregas no entanto, acabam por promover o uso para além do marketing.
Foi justamente o aumento nas vendas online que fizeram clientes da Dream Bike que tinham três bicicletas cargueiras, aumentarem sua frota para 15 veículos.
O desafio de convencer clientes sobre a importância das bicicletas cargueiras
Desde 2010 no mercado de entregas, a Carbono Zero faz desde a sua fundação um trabalho de convencimento sobre a importância da bicicleta para a logística. Com uma lógica de emissão zero, a empresa foi uma das que se beneficiou diretamente com o aumento da demanda por entregas por conta da pandemia.
Em parceria com gigantes do varejo, a Carbono Zero faz o último quilômetro de entregas do e-commerce do Mercado Livre e Privalia. Gestor de Negócios da Carbono Zero, Nelson Pinto de Carvalho gosta de dizer que a empresa trabalha com bicicletas convencionais e cargueiras na lógica da “última légua”. O termo é antigo, mas traduz um conceito extremamente atual.
Légua é uma medida de distância usada no Brasil e em Portugal antes da universalização do sistema métrico, podendo designar de 2km até 7km. Para a Carbono Zero, a “última légua” é a distância ideal entre seus pontos de distribuição e a casa dos clientes. Afinal, nas grandes cidades, a maneira mais eficiente para percorrer qualquer distância abaixo de 7km é em bicicleta.
Bicicletas de carga a melhor solução nas cidades européias
Em tempos de mudanças climáticas e a necessidade de redução de emissões, as bicicletas cargueiras ganham cada vez mais espaço. Mais potentes e eficientes, os motores elétricos ajudam a derrubar as últimas resistências.
Pesquisa recente, comprovou o que já havia sido demonstrado na prática no Brasil e na Europa. Bicicletas cargueiras são mais baratas do que vans e muito mais eficientes. Elas são 60% mais rápidas e reduzem em 90% as emissões de gases de efeito estufa. Bicicletas cargueiras elétricas emitem ⅓ menos CO2 do que as vans movidas a diesel ou gasolina.
A tendência é que a solução que as bicicletas cargueiras representam se tornará padrão nas grandes cidades. A DHL na Holanda, por exemplo, já faz 100% de suas entregas expressas em Roterdã sem emitir CO2. O compromisso faz parte do esforço da gigante logística de zerar emissões até 2050. Além de vans elétricas carregadas por painéis solares, a estratégia da empresa está mesmo centrada na união de pedais e motores elétricos.
O mercado global de bicicletas cargueiras
Números recentes já comprovam a importância das bicicletas de carga. Hoje, o mercado global está estimado em US$ 900 milhões (R$ 4,67 bilhões), e a previsão é de um crescimento anual médio de 11,6% até 2031. Em dez anos, o mercado chegaria aos US$ 2,8 bilhões (R$ 14,5 bi).
A expectativa pode até ser bastante conservadora. Pesquisa do setor de ciclologística na Europa apresentou os números de 2020 e a expectativa para 2021. Entre 2019-2020, a indústria da bicicleta cargueira cresceu 38,4%. O resultado esperado para este ano é ainda mais surpreendente: 65,9%.
O futuro das bicicletas cargueiras
Muitos desafios ainda precisam ser encarados. Um deles é a regulação acerca da qualidade das bicicletas, atualmente em discussão na Europa. Já no Brasil, o desafio ainda é promover a aceitação pelo mercado e pelos órgãos reguladores. Para receber uma licença da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) a empresa de logística precisa ter em sua frota um veículo emplacado e motorizado, do contrário, fica restrita a contratos menores.
Iniciativas pioneiras, como o desenvolvimento de um novo modelo de bicicleta cargueira para os Correios, ajudam a apontar caminhos. Novos modelos para atender a demanda pela ciclologística aos poucos se somam a crescente demanda e interesse que as cargueiras representam. Informação para a construção de frotas são um excelente caminho para empresas interessadas em se beneficiar com a adoção das bicicletas de carga.
Agradecimentos
O Bicicleta News Especial é uma iniciativa da Aliança Bike com o apoio do Itaú Unibanco.