Vem aí Falzoni 7.0: agora também vou lutar contra o etarismo!
As bicicletas estão em festa! Renata Falzoni completa hoje 70 anos, dos quais 47 dedicados ao sonho de resgatar a escala humana para as cidades e com muitos habitantes pedalando em segurança. As ciclistas e os ciclistas do Brasil devem se orgulhar por ser uma mulher a primeira, a mais importante e a mais famosa cicloativista do país. Seus feitos pela bicicleta rendem páginas e páginas – e histórias sensacionais -, mas ela acredita que suas maiores contribuições se deram pela comunicação, que ela define como a subversão do jornalismo.
Renata divulga e promove há quase cinco décadas, e em vários canais, os esportes e o turismo ligado à bicicleta, assim como as incidências junto a todas as instâncias do poder público, inclusive, foi candidata três vezes a cargos públicos: duas vezes para a Câmara Municipal de São Paulo (1996 e 2020) e uma para deputada estadual por São Paulo (2022), conseguindo em todas uma votação expressiva. Mas, para ela, seu maior legado é mesmo o de seguir pedalando! Alguma dúvida sobre o quanto ela é querida pelos ciclistas? Durante os quatro dias de Shimano Fest, Renata calcula ter feito mais de 1.500 selfies! “Me baseio no número de adesivos que sobrou!”
No meio desta entrevista, sua mãe, Dona Yedda, trouxe uma bacia de pipoca, que foi recebida pela filha com uma alegria quase juvenil. Enquanto comia uma, jogava outra para o cão Caramelo, que abocanhava o petisco no ar e arrancava risos de Renata. Em meio a essa brincadeira, ela avisou com entusiasmo: vem aí a Renata 7.0. “Além de seguir firme na militância pela bicicleta, vou entrar de sola na luta contra o etarismo. Quero propor um olhar diferenciado para quem tem mais idade, não como velhinhos, mas como pessoas capazes”, diz ela. “Só o fato de eu ser uma mulher de 70 anos que segue pedalando já diz muito sobre essa questão!” E as reivindicações já começaram. “Faz tempo que estou batendo na tecla de que precisamos de bicicletas elétricas mais leves, bem mais leves. Me diz, quem é que aguenta carregar 23 quilos?”, questiona ela.
Durante a inauguração da ciclovia da Terceira Ponte, em Vitória (ES), na semana passada, Renata contou que a primeira pessoa a reconhecê-la ao chegar à cidade foi uma garota de nove anos, que se declarou fã. “Ela me conhece por vídeos no TikTok, disse que adora pedalar e quer usar a bicicleta como eu”, conta. “Ou seja, ainda temos um longo trabalho pela frente!”
Feliz aniversário, Renata Falzoni!
Resumimos, mesmo, alguns dos feitos dessa lenda chamada Renata para nosso universo da bicicleta e além. Organizamos pelo que entendemos serem as bandeiras que ela sempre levantou e protagonizou. Curta com a gente essas memórias e deixe nos comentários os momentos da vida de Renata Falzoni que também te inspiram!
CICLOTURISMO
No final dos anos 1970, um tempo em que quase ninguém sabia que também era possível – e adorável – viajar de bicicleta, Renata Falzoni já explorava trilhas nas regiões de Campinas, litoral norte de São Paulo e Campos do Jordão. Em julho de 1988, ela realizou o primeiro evento de cicloturismo e MTB no Brasil: Iº Cruiser das Montanhas de Campos do Jordão. Em uma praça da cidade, reuniu 50 bicicletas de sua frota e levava as pessoas para pedalar 5 km ou 10 km pelas trilhas locais. Desde então, já pedalou por 33 países e todos os estados do Brasil, divulgando a modalidade nos jornais Folha de S. Paulo, ESPN, Canal 21 e há dez anos pelo canal de YouTube Bike é Legal, além de tantas outras publicações em que já contribuiu. “Acho que a minha maior contribuição para fomentar o turismo por bicicleta, foi comunicar essa possibilidade desde 1986”, diz ela.
MTB
Era metade dos anos 1980, as importações ainda estavam fechadas e por aqui ainda não havia oferta de bicicletas para encarar esse novo esporte que ganhava cada vez mais espaços e adeptos nos Estados Unidos. As notícias chegavam apenas pelas revistas importadas. Renata Falzoni, que já era adepta do montanhismo e praticava cicloturismo por trilhas, achou no esporte um lugar ideal. “Nessa época a gente ainda nem sabia como ia denominar, se era Mountain Bike, como os americanos, ou Ciclismo de Todo Terreno, como os franceses”, lembra ela, que na sequência ainda realizou outras duas provas, que ficaram conhecidas como MTB Copa Halls-Lâminas Schick. “Organizar provas ou competir, nunca foram meu intuito, por isso parei com os eventos.”
BMX
Renata foi uma espécie de tradutora do BMX para o português. Ela se lembra do primeiro contato que teve, como jornalista, com o esporte. “Era 1997 e eu fui fazer a cobertura de um evento de esportes radicais no Shopping Eldorado chamado Fera Brasil. Era uma total ignorante naquela modalidade”, lembra Falzoni. “Me sentei com os atletas Drac, Fita e Serginho e pedi que me ensinassem tudo, dessem o nome de casa manobra.” E como é obstinada, foi estudar e, principalmente observar os movimentos para poder explicar ao público. No período em que trabalhou na ESPN, cobriu todos os X Games realizados entre os anos 2005 a 2013, seja presencialmente ou fazendo a transmissão direto do estúdio. Ao observar a colega em ação, Ken Gordon, da revista Xtreme, disse: “Renata é a equipe de uma mulher só, ela sempre está onde a ação acontecer” Mas para Renata, seu maior legado para o BMX foi mesmo quando, a partir de 2000, a frente do programa Aventuras da Falzoni, na ESPN, ele pode divulgar o BMX na periferia e se orgulha das matérias defendendo o Caracas Trail, uma das mais famosas pistas de Dirt Jump do Brasil, em funcionamento até hoje.
ESTRADA
Durante seu mandato de 30 dias como vereadora em São Paulo, em 2021, usou a cadeira para acelerar propostas e debates sobre a criação na cidade de Áreas de Proteção ao Ciclista de Competição (APCC). Lembra-se com carinho da cobertura olímpica de 2012, em Londres, quando entrevistou os atletas Murilo Fischer e Luciano Palharini. “A gentileza dos dois me fez olhar esse esporte de outra maneira.”
JORNALISMO
Renata Falzoni inovou a maneira de fazer jornalismo ao criar linguagens próprias para as suas reportagens e seguir fazendo ativismo pela comunicação – subversão do jornalismo, como ela mesma gosta de definir. “Não tenho dúvidas que minha maior contribuição para a bicicleta , além de pedalar e seguir pedalando pela cidade, foi pela comunicação”, diz ela. Renata trabalhou como fotojornalista em grandes jornais e revistas, até que descobriu o vídeo e inovou com o formato da videorreportagem, que colocou em ação na ESPN, Canal 21 e até hoje em seu canal Bike é Legal no YouTube. Renata também fez história ao criar o bikerepórter, entre 1999 e 2001 e depois entre 2008 a 2012, e fazer a cobertura do trânsito para a rádio Eldorado com muito mais agilidade.
GRANDES COBERTURAS ESPORTIVAS
Em nome dos ciclistas, Renata foi a primeira ciclista a carregar uma tocha Olímpica em 2016. Antes, em 2007, já havia portado o símbolo nos Jogos Pan Americanos. Ao todo, ela participou da cobertura de quatro Olimpíadas: Atenas (2004), Pequim (2008), Londres (2012), Rio de Janeiro (2016) e usou sua bicicleta dobrável em todas elas para produzir suas reportagens. “Tenho um protagonismo explícito na bicicleta, porém tem um lado implícito que não aparece, que é a bicicleta como ferramenta para agilizar meu trabalho nas coberturas”, diz ela. Como exemplo, cita a reportagem sobre vendas de ingressos feita por cambistas que só Renata conseguiu entrevistar os cambistas e revelar o esquema justamente por estar com sua dobrável e poder, literalmente, correr atrás deles. Renata também cobriu as Copas do Mundo Japão Coréia (2002), África do Sul (2010) e Brasil (2014), além dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro (2007)
GRUPOS DE PEDAL
Essa quase todo mundo sabe, pois muito começaram a pedalar pela cidade com eles, os Night Biker’s, o primeiro grupo de pedal do Brasil, criado em 1989, uma ideia da Renata e um punhado de amigos e que se espalhou por todo o país desenhando o cenários de dezenas de grupos na maioria das cidades brasileiras. “Criei aquilo pela comunidade, para aproveitar uma cidade que à noite era mais calma. Sei que isso atraiu muita gente para pedalar na cidade.”
CICLOATISMO
Em janeiro de 1998, Renata liderou o grupo de ciclistas que pedalou de Paraty (RJ) a Brasília (DF) para celebrar o reconhecimento da bicicleta como meio de transporte no então Novo Código de Trânsito Brasileiro. “Conseguimos com isso chamar a atenção da imprensa para a bicicleta, foi um momento bastante importante”, lembra ela. “Depois disso, fiquei muitos anos focada no ativismo pela comunicação e só fui voltar para a rua com a Bicicletada.”
ARQUITETURA
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1977, Renata acredita que seu maior feito nessa área tenha sido ter a coragem de questionar o Modernismo da escola de Oscar Niemeyer contra as cidades sem bicicletas. “A capital do Brasil está tombada de um jeito que vai fazer o erro se perpetuar. Está tudo amarrado e não se consegue abrir espaço para meios como a bicicleta ou o VLT.”
POLÍTICA
Renata também candidatou-se três vezes a cargos políticos: duas vezes para a Câmara Municipal de São Paulo (1996 e 2020) e uma para deputada estadual por São Paulo (2022), conseguindo em todas uma votação expressiva. Em 2021 assumiu a cadeira na Câmara Municipal como suplente, em um mandato de 30 dias que movimentou a cena paulistana e a casa legislativa.