Por João Lacerda
21 de agosto de 2021
O mercado global da bicicleta tem se mostrado extremamente atrativo para investidores. O aumento da demanda por bicicletas durante a pandemia é um dos fatores, mas as projeções futuras de crescimento são a principal explicação para uma recente onda de aquisições, fusões e grandes investimentos em empresas ligadas à bicicleta.
Consolidações são apenas parte do movimento envolvendo investidores e bicicletas, outra tendência em crescimento é a busca por novos modelos de financiamento. O mercado ciclístico tem feito ofertas de ações, se aberto para fundos de investimento e até mesmo para financiamento coletivo.
Crise financeira e novas oportunidades
Em resposta à crise financeira de 2008, os bancos foram forçados a cumprir regras mais rígidas em relação aos seus investimentos. O Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision – BCBS), organização internacional que regula o setor bancário e da qual o Brasil é membro, foi quem estabeleceu as novas diretrizes.
O objetivo da “Basileia III” foi aprimorar o regramento anterior e garantir que o sistema financeiro internacional fosse capaz de absorver os choques internos e também dos outros setores da economia. Na prática, os bancos ficaram mais seletivos na hora de emprestar dinheiro e o setor produtivo teve de ir atrás de alternativas.
A fonte de dinheiro secou e grandes empresas de varejo, em especial, acabaram lançando ações na bolsa. Mesmo no mercado brasileiro, com juros em queda ao longo da última década. A oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês) do Magazine Luiza (abril de 2011), Via Varejo (dezembro de 2013) e Centauro (abril de 2019) fazem parte dessa busca dos grandes varejistas por novas opções de financiamento das suas atividades.
O mercado da bicicleta se lança na bolsa de valores
Empresas do setor de bicicletas já estão na Bolsa há muitos anos. Mesmo no Brasil, a tradicional Monark é um exemplo de empresa com ações em bolsa. Gigantes internacionais também têm presença nos mercados de ação de seus países. A Dorel, controladora da Caloi, está presente na Bolsa de Toronto, no Canadá. Já a Shimano tem suas ações negociadas na Bolsa de Tóquio. Thule e Fox são outros exemplos de empresas com presença no Brasil e ações sendo negociadas.
A novidade, no entanto, é que o movimento internacional de buscar recursos financeiros com ações também envolveu a indústria da bicicleta. Aproveitando o aumento no interesse por bicicletas, foi criada uma carteira de empresas com ações negociadas na Bolsa de Frankfurt. Ainda que muitas delas tenham relação indireta com bicicletas ou estejam relacionadas a atividades ao ar livre em geral.
As gigantes do setor de bicicletas souberam se adaptar aos novos cenários. Seja pelo acesso ao mercado de ações, ou até mesmo a financiamentos diretos através do sistema financeiro.
O desafio está com quem é pequeno. Mesmo formando grande parte do mercado, as pequenas e médias empresas ficaram sem receber atenção de investidores. Sofreram com a restrição de crédito, mas não tinham a opção de buscar dinheiro em Bolsas de Valores. Foi preciso pensar em alternativas.
O crowdfunding no mercado de bicicletas
Iniciativas de microfinanciamento se tornaram muito comuns nos últimos anos. Uma solução simples para juntar pequenos investidores ao redor de idéias ou produtos que precisam de apoio financeiro para acontecer. Os usos variam bastante.
Inovação tecnológica e expansão também encontram no microfinanciamento uma alternativa viável. Febre na internet, o sistema de transmissão Driven, da norueguesa CeramicSpeed, conseguiu captar mais de um milhão de dólares (R$ 5,4 milhões) para lançar o produto no mercado. Um modelo de financiamento semente, muito adotado por startups.
No Brasil, a Vela Bikes usou um modelo semelhante ao da CeramicSpeed. A empresa brasileira buscou investidores para seu novo modelo através de um processo que chamaram de “mini IPO”. Foi uma oportunidade de captar pequenas quantias com investidores e entusiastas da marca. Com investimento mínimo de R$ 2.500, a Vela chegou a 107.07% da meta mínima, ou R$ 1.784.500,00, vindos de 195 investidores.
No esporte, o crowdfunding já foi usado para ajudar atletas a pagar pela recuperação pós acidentes. Afinal, uma queda grave pode render meses parados e os custos com internações e tratamento são capazes de falir as pessoas em países sem um sistema público de saúde.
Outro exemplo esportivo, foi o da equipe anglo-italiana Vini-Zabú, do escalão UCI Continental Profissional. Depois de terem sofrido problemas com doping de atletas, fizeram uma campanha para implementar um controle interno antidoping mais rígido. Ficaram longe ambiciosa meta de €500,000 (R$ 3,1 milhões), mas a campanha ao menos rendeu um dinheiro extra no caixa da equipe.
Campanhas menos ambiciosas, e com foco em ações sociais e artísticas são mais comuns. Seja no exemplo da BikeSolidária, que levou bicicletas para crianças em Belo Horizonte. Mas também apoios recorrentes, como pede o coletivo Pedal Sonoro de Niterói, no Rio de Janeiro.
Futuro do financiamento da indústria da bicicleta
O crescimento da venda de bicicletas elétricas e a consolidação dos novos produtos mostra a maturidade do mercado. A tendência atual é que a bicicleta puxe o crescimento de todo o setor global de esportes e atividades ao ar livre.
Existe muito espaço para o desenvolvimento de novos produtos, e captação de recursos através de rodadas de investimentos. Ao mesmo tempo, existem diversas companhias do setor que são lucrativas e trazem boas margens de lucro.
Investidores e empresários ainda precisam se encontrar mais e o mercado precisa desenvolver mecanismos de financiamento voltados para a bicicleta. Com oportunidades restritas para investimentos financeiros em bicicletas, o cenário brasileiro ainda tem desafios ainda maiores.
Agradecimentos
O Bicicleta News Especial é uma iniciativa da Aliança Bike com o apoio do Itaú Unibanco.
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