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Especial China: o boom das bicicletas elétricas

Na terceira reportagem da série especial sobre a China, abordamos o uso crescente das bikes elétricas nas cidades chinesas e os desafios enfrentados para tornar seu uso mais seguro

Foto: Leopoldo Godoy/G1

As bicicletas elétricas representam um grande desafio para a China. Ao mesmo tempo em que se mostram um meio eficiente para incentivar a troca do carro ou transporte público pela bicicleta, o aumento no número de e-bikes nas ruas começa a gerar alguns problemas, especialmente devido aos acidentes provocados e também pela baixa qualidade das baterias. De acordo com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) na China, estima-se que atualmente existam 350 milhões de e-bikes nas ruas do país.

A definição de bicicletas elétricas na China difere de outros países, estabelecendo peso e velocidade máximos de 55 kg e 25 km/h. “Portanto, se você não ultrapassar essas duas limitações, poderá ser considerada uma bicicleta elétrica. Por aqui não temos a categoria moped [autopropelido, no Brasil]”, explica Qiu Yang Lu, engenheira de trânsito e representante do ITDP local. Ainda, na China não há distinção entre uma e-bike com acelerador e com pedal assistido, como ocorre na Europa e no Brasil, por exemplo.

Para Yang Lu, boa parte do uso das elétricas na China está atrelado ao controle governamental sobre a posse de automóveis. “Antes de comprar um carro, o chinês precisa ter uma autorização do governo para adquirir uma placa, controlando assim a quantidade de automóveis nas cidades”, explica. É como um sorteio: você se inscreve, recebe um número aleatório e apenas poucas pessoas são escolhidas. Muitos esperam anos e ainda não conseguem uma placa para poder comprar um carro.

Nas cidades menores da China, onde o controle de automóveis não é tão rigoroso, as bicicletas elétricas são muito comuns devido à limitação dos serviços de transporte público. Nessas áreas, as pessoas dependem das e-bikes para sua mobilidade diária.

“A popularidade das bicicletas elétricas também é influenciada pela eficiência e custo-benefício em comparação ao transporte público e aos automóveis”, continua Qiu Yang Lu. “O transporte público pode ser mais lento e mais caro que as bicicletas elétricas, cujo preço de compra é bastante acessível, podendo ser menos de 2.000 yuans chineses [300 dólares]. As e-bikes são ainda  mais baratas que as bicicletas convencionais”, conclui.

electricbikereport.com

Apesar dos benefícios das elétricas, é fácil compreender os desafios que elas trazem ao imaginar os fluxos em uma cidade pequena, onde o uso é muito difundido. A começar pela segurança viária, que é uma grande preocupação.

Tanto colisões entre e-bikes e automóveis, quanto sinistros envolvendo apenas e-bikes, são bastante comuns. As principais soluções na China têm sido a educação, como incentivar o uso de capacetes e cursos de pilotagem segura. Não há políticas ou regulamentos obrigatórios que definam claramente o comportamento dos usuários de e-bikes, o que representa uma lacuna nas políticas de segurança. As multas que são aplicadas, por desrespeito às regras de trânsito, têm valores baixos – 20 yuan, cerca de US$ 3 – e não há limite para o número de vezes que um ciclista pode ser autuado. Segundo Qiu Yang Lu, muitos usuários já contabilizam os gastos com multas e que, mesmo assim, as e-bikes continuam sendo muito acessíveis como meio de transporte.

Outra questão desafiadora são as ocorrências graves  com as baterias. A falta de regulamentação coloca no mercado baterias de baixa qualidade, o que torna o preço das elétricas mais acessíveis mas, ao mesmo tempo, contribui diretamente para o aumento de risco de incêndios – principalmente durante à noite, quando os chineses têm o costume de fazer o carregamento em casa enquanto dormem.

Segundo relatou Qiu Yang Lu, para mitigar esses riscos associados às baterias, o governo chinês tem implantado uma boa infraestrutura de carregamento público e próxima às residências. Contudo, a adesão pela população às estações públicas de carregamento ainda não foi satisfatória.

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Adriana Marmo

Sou jornalista, formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo na PUC de Campinas, conclusão em 1989. Há oito anos troquei o carro pela bicicleta como meio de transporte e, desde então, sou ativista da causa e me especializei em mobilidade urbana

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