A primeira fase do trajeto deve ser sinalizada até agosto e pelo caminho, caatinga, cangaço e as belezas do cânion do rio São Francisco
Entre os tantos benefícios do cicloturismo está também aquele de despertar o interesse pelo próprio território. São muitos os casos de pessoas que enxergam a potência das histórias, dos personagens, da vegetação ou outra característica do local, se organizam e começam a fazer disso uma trilha para bicicletas. Foi assim em Goiás, na Paraíba, no Ceará e agora na Bahia com a Trilha Maria Bonita.
Há anos essa ideia povoa os pensamentos de Emerson Leandro Costa de Oliveira, chefe do ICMBio Paulo Afonso. Ele é de Paulo Afonso, cidade natal de Maria Gomes de Oliveira, que ficou famosa com o apelido de Maria Bonita. Conversas com Vera Ferreira, que é ciclista e neta da personagem famosa, e com os vários grupos de pedal da região foram dando mais corpo à ideia. “Este ano a Prefeitura abraçou a causa, fizemos um evento para testar a trilha, em 30 de abril, e o resultado foi muito positivo. Mais de 800 ciclistas participaram”, conta ele.
“O sucesso do evento foi apenas a confirmação da certeza que esta trilha deve existir. Ela vai trazer prosperidade para os municípios e distritos por onde passa, além de ser uma ferramenta poderosa para conscientização sobre a preservação da natureza”, diz José Matias Neto, diretor de esportes da Secretaria Municipal de Cultura e Esporte de Paulo Afonso, que apoiou o evento e também está envolvida na criação deste roteiro.
A ideia, segundo Emerson, é sinalizar, até agosto, os 42 km dessa trilha. O ponto de partida é o centro da cidade de Paulo Afonso e o final, o povoado de Malhada da Caiçara, que abriga a casa onde nasceu Maria Bonita e onde hoje está instalado um pequeno museu em homenagem à mais famosa filha da terra. Além da potência histórica, o percurso oferece paisagens de tirar o fôlego.
É que todo o trajeto está inserido dentro da Unidade de Conservação Monumento Natural do Rio São Francisco, que se espalha por uma área de 27 mil hectares entre os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe. O ciclista vai pedalar no meio do esplendor da vegetação da Caatinga, sempre próximo ao São Francisco, um dos rios mais amados do Brasil. O ponto alto é o momento em que o rio corre por entre os cânions. Da bicicleta, a visão é privilegiada.
O caminho vai nascer já fazendo parte da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, ou seja, a sinalização vai contar com a identidade visual da rede, que é a pegada amarela, com elementos da identidade visual desta rota, cuja marca é um cacto. “Em breve vamos organizar o mutirão, com a ajuda de grupos de ciclistas da região e os agentes temporários do parque, e fincar as placas”, explica Emerson.
“A questão é que quanto mais a gente avança com este projeto, mais possibilidades a gente enxerga”, diz Emerson, que já almeja a segunda fase de expansão da Trilha Maria Bonita. “Vamos chegar até a Gruta do Angico, na cidade de Poço Redondo, em Sergipe, onde o bando de Lampião foi atacado.” E pelo caminho, mais histórias e belezas. O trajeto desta segunda etapa, é o mesmo por onde caminhava o bando de Lampião e também por onde passou D. Pedro II, em 1859, durante uma expedição que fez a partir de Alagoas e subiu pelo São Francisco sertão adentro.
Estamos na torcida por mais este avanço do Cicloturismo no Brasil. O Observatório do Cicloturismo, em parceria com a Aliança Bike e a Rede Trilhas, está realizando a atualização do mapeamento de destinos brasileiros de cicloturismo. Se você é gestor(a) de algum destino de cicloturismo, contribua conosco preenchendo este formulário. Exemplos de destinos de cicloturismo: rotas e circuitos, roteiros em centros urbanos, áreas naturais que desenvolvam roteiros e trilhas voltados ao cicloturismo, entre outros.
