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Conheça três projetos que levam pessoas cegas para pedalar

13 de dezembro de 2022

Projetos levam cegos e pessoas com deficiência visual a sentir as incríveis experiências sensoriais que uma bicicleta proporciona

A cada 15 dias, aos domingos, Adriana Galhardo, 34 anos, acorda bem cedo, antes das seis da manhã. Depois de se arrumar, toma um ônibus ou, em tempos de bolso cheio, um UBER para chegar ao Parque do Taquaral, em Campinas, interior de São Paulo. Ela vai até lá para pedalar com o projeto KB2 (cabem dois na bicicleta) – Olhos que Guiam, que existe há seis anos.

Adriana nasceu cega e, apesar de ter passado boa parte da infância pedalando uma bicicleta com rodinhas no pequeno quintal da sua casa, depois que conseguiu conduzir apenas com o seu equilíbrio, desistiu da bicicleta. “No meu quadradinho eu sabia exatamente onde me virar. Sem as rodinhas, a gente quer espaços maiores e aí não foi mais possível”, conta ela, que conheceu o projeto há pouco mais de quatro anos.

“Quando a gente pega uma descida, dá até para soltar as mãos do guidão, erguer os braços, bater palmas e celebrar esse misto de alegria com liberdade.” Para ela, a importância de projetos como o KB2 são muitas, mas ela destaca o estímulo à prática de atividade física e a socialização.

Fazer alguém se divertir

Foram exatamente esses pontos que moveram Almir Martelli a criar esse projeto. “Descobri que os cegos são sedentários e solitários”, diz ele, que se inspirou no depoimento sobre pedalar dado por uma pessoa com deficiência visual em uma reportagem que viu na tevê no Recife. “Quando o rapaz disse que soldou uma bicicleta porque queria se divertir junto com irmão cego, não tive dúvidas que também queria fazer alguém se divertir comigo.”

Almir, que também é ciclista, comprou logo um Tandem, um modelo de bicicleta no qual duas pessoas pedalam simultaneamente e quem vai à frente faz a condução da bicicleta. Sua companheira foi a cobaia para ele treinar e, quando se sentiu seguro, chamou outros amigos e colocou o projeto pra rodar.

Atualmente eles contam com oito bicicletas em uso, 10 a 15 participantes e sete guias. “Temos muitos custos e sempre precisamos de patrocínio para expandir. Gostaríamos de, por exemplo, ter condições de buscar as pessoas em casa”, explica.

O O Bike Anjo de Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, também possui um projeto de inclusão para cegos chamado Bike Para Todos. Além de Tandem, HandBike e triciclo, eles possuem uma ferramenta chamada ODKV (o de cá vê). Nela, ciclista e guia pedalam lado a lado. O projeto existe desde 2018 e já levou muitas pessoas com deficiência visual e cegas a viverem uma experiência sensorial incrível sobre a bicicleta.

Segundo André Vaz, um dos idealizadores do projeto, o ODKV está começando a estudar a criação, em parceria com o Centro Universitário de Volta Redonda (Unifoa), de um kit universal. “Assim será possível que outras bicicletas se transformem em dupla com mais facilidade. E a ideia é que isso se expanda pelas cidades”, diz ele.

Em Fortaleza, a inclusão com bicicletas é uma política pública da Prefeitura Municipal. A cada 15 dias, aos sábados na praia de Iracema, há uma tandem destinada a fazer rolês com os cegos e pessoas com deficiência visual. O Bike Sem Barreiras existe desde 2021 e possui ainda outras duas bicicletas: uma hand bike (pedala-se com as mãos) e uma duet, com uma cadeira de rodas adaptada na frente. Os monitores do projeto são fisioterapeutas da Universidade Maurício de Nassau. O projeto faz parte do Praia Acessível, que são banhos de mar assistido para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Esta reportagem é publicada hoje, dia 13 de dezembro – Dia Nacional do Cego e da Pessoa com Deficiência Visual e também o Dia de Santa Luzia, a Padroeira dos Olhos, para nos conscientizar contra o preconceito e discriminação e reforçar o quanto a bicicleta pode ser transformadora.

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Adriana Marmo

Sou jornalista, formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo na PUC de Campinas, conclusão em 1989. Há oito anos troquei o carro pela bicicleta como meio de transporte e, desde então, sou ativista da causa e me especializei em mobilidade urbana

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