Raiza Goulão, pés nos pedais e olhos em Paris-24
Com uma campanha vitoriosa, cabeça serena e foco nos treinos, a atleta está cada vez mais perto de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2024
Raiza Goulão, 32 anos, da Squadra Oggi, é uma das principais atletas do MTB brasileiro. A sua boa campanha este ano – participou de pouco mais de dez competições e conquistou sete vitórias, incluindo a Copa Internacional de Mountain Bike, em Araxá – está fazendo Paris 2024 ficar mais perto. “Cada ano que passa, me sinto mais madura e feliz. Consegui virar uma chave dentro de mim e esvaziar a minha mente. Há coisas que não posso controlar, então me concentro em entregar 100% do que está sob meu controle, porém sem sentir a pressão”, diz ela. “Estou numa vibe muito boa!”
A boa energia da ciclista, para além da experiência, também pode estar ligada a um estilo de vida e até uma certa raiz genética. Raiza é nômade, no sentido mais literal da palavra. “Qualquer prova que eu tenha de fazer no Brasil, preciso viajar, no mínimo, oito horas para chegar na largada. Isso sem contar as temporadas de treinamento que faço bem longe de casa”, diz ela, que nasceu em Pirenópolis, no interior de Goiás, onde tem casa, família, amigos e a fama de ser a cidadã mais querida da cidade.
O primeiro a chegar em Piri foi o pai, que mudou-se para lá com o desejo de viver em uma comunidade hippie. E foi nesse lugar – onde hoje se encontra o ponto de partida da rota de cicloturismo Caminhos de Cora – que a atleta cresceu e cultivou seu espírito livre. Assim como alguns conceitos, como estabelecer laços fortes mesmo à distância, viver bem com a solidão e praticar as boas vibrações, que a ajudam a ter equilíbrio para enfrentar com serenidade o seu trabalho.
“Sou muito de energia e conexões, criei muitos laços por aí. Cada lugar que passo é um aprendizado e procuro deixar um pedacinho meu”, diz ela, que costuma hospedar-se em hotéis quando vai competir e na casa de amigos quando está em temporada de treinos. “Tenho ´casa´ em Mairiporã, Juiz de Fora, Pirassununga…”
Atualmente, Raiza está passando uma temporada na Europa para fazer treinamento de altitude e também participar de provas, como a primeira etapa da Copa do Mundo em Nové Mesto, na República Tcheca e a XCO Classe 1 da Supercup, em Santa Susanna, Barcelona, na Espanha, onde conquistou a segunda colocação.
Nas próximas semanas ainda tem duas etapas da Copa do Mundo UCI de MTB: Suíça, entre 9 e 11 de junho, e Áustria, nos dias 16 e 18 de junho. A atleta imagina ficar nesse ritmo, entre treinamentos intensos, competições e muitas viagens, pelo menos até novembro. E aí vai poder tirar alguns dias e fazer o que sente mais falta: estar com amigas, andar pelo mato e passear na sua Piri.
Mas não há reclamação em sua fala, ainda mais agora que está colhendo bons frutos e o período em que esteve machucada ficou no passado. Raiza sofreu uma queda e fraturou o dedo médio da mão esquerda, em maio de 2021, o que a obrigou a ficar meses afastada das pistas. “Foi bastante desafiador, muita solidão passar por quatro cirurgias em São Paulo. Minha sorte são esses laços que eu criei até aqui.”
Sua rotina diária é baseada nos cuidados com o corpo, nos treinos diários, que passam dos 100 km, na alimentação equilibrada, meditação e no descanso. “Raiza é uma atleta muito regrada, experiente e dona de uma cabeça evoluída”, elogia Edu Ramires, diretor técnico da Squadra Oggi, da qual Raiza faz parte.
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