Retomada de eventos ajuda a prever o futuro do mercado de bicicletas
Após a interrupção completa de grandes eventos e a multiplicação do online, encontros presenciais retornaram parcialmente ao longo de 2021. Mas o que nunca parou foram os lançamentos e as conversas entre diferentes forças de mercado.
Com vendas em crescimento, a bicicleta elétrica tem impulsionado o debate sobre mobilidade e trazido impactos diretos até mesmo no parque industrial do continente europeu.
Para muito além das elétricas, diversos debates ajudam a entender os caminhos do mercado europeu e como eles podem impactar diretamente o mercado global de bicicletas.
Bicicletas no salão do automóvel
Nos Estados Unidos, uma grande feira de mountain bike e gravel realizada em conjunto pela primeira vez em outubro de 2021 chamou a atenção do mercado. A iniciativa é parte do movimento norte-americano de produzir grandes eventos empresariais que unem bicicletas e atividades ao ar livre.
Já na Europa, a tendência é a união ao redor do tema da mobilidade. A Eurobike, maior feira de bicicletas fora da Ásia, reuniu quase 20 mil pessoas. Mas a grande novidade no continente foi mesmo a presença de bicicletas, em especial as elétricas, em feiras antes voltadas para os automóveis.
Misturadas aos microcarros, as elétricas se destacaram no IAA Mobility, o Salão do Automóvel Alemão. Já está claro que o futuro urbano será mais pedalado e quem vende soluções para movimentar pessoas nas cidades entendeu essa lógica.
Bolha no mercado de bicicletas?
Os números positivos do mercado de bicicleta impressionam. Em todo o continente europeu foram registrados crescimento de dois dígitos nos últimos períodos. As elétricas, em especial, estão cada vez mais populares. O bom momento gera dúvidas em relação a uma possível bolha no mercado.
Para Erhard Buchel, presidente da Confederação Europeia da Indústria da Bicicleta (Conebi), vivemos uma mudança de mentalidade. A bicicleta elétrica se tornou “chique”, pessoas de todas as idades estão pedalando cada vez mais e a tendência é de um crescimento estável, como o que acontece na Alemanha.
As projeções da indústria europeia mostram que até 2025 serão vendidas mais e-Bikes do que bicicletas convencionais. Garantir esse crescimento estável passa por manter um cenário legislativo favorável. Com incentivos governamentais para compra de bicicletas novas, mas também com leis que não prejudiquem o setor.
O seguro obrigatório para pedelecs, quase posto em vigor pela União Européia, é um exemplo de retrocesso legislativo possível. A busca do mercado é sempre por estabilidade, sem mudanças bruscas nas regras.
Como a UE pode favorecer novos negócios que envolvam bicicletas
Garantir que as bicicletas elétricas de pedal assistido, as pedelecs, continuem a ser tratadas como as convencionais é outro ponto importante para todos os envolvidos na produção e venda. Nesse sentido, a “tunagem dos motores”, ou modificações não autorizadas que interferem na segurança das elétricas, são um desafio.
As fabricantes e importadoras no mercado europeu estão empenhadas em coibir a prática ilegal de modificar as especificações dos motores das pedelecs. Garantir que os modelos de pedal assistido continuem a ser uma solução bem vista como transporte sustentável do futuro passa por garantir a boa imagem que as bicicletas elétricas têm.
Além de garantir um bom ambiente legal para as elétricas, o mercado europeu de bicicletas defende também mais infraestrutura cicloviária nas cidades. Garantir o uso seguro das bicicletas no ambiente urbano é fundamental para aumentar o número de ciclistas e as vendas.
Outra importante bandeira a ser mantida são os estímulos fiscais. Através de subsídios, os governos europeus buscam diminuir o preço das bicicletas para os consumidores finais. A continuidade de programas assim é um estímulo garantido para o crescimento de longo prazo de todo o mercado.
O desafio na cadeia de suprimentos de bicicletas na Europa
O bloqueio do canal de Suez pelo navio Evergreen é a imagem mais marcante da interrupção no fornecimento de peças e componentes de bicicleta da Ásia para a Europa. A esperança era que depois do acidente e do engarrafamento de navios cargueiros que se criou, a situação voltasse a se normalizar.
A dura realidade é que os fabricantes europeus de bicicletas não têm ainda um fluxo contínuo de insumos. Estão operando com 50% ou até 30% da sua capacidade produtiva e ainda lidam com a escalada global no preço dos contêiners.
Um contêiner do Sudeste Asiático para a Alemanha em setembro de 2020 custava US$ 1.250, esse valor subiu para US$ 16 mil e hoje está em US$ 22 mil. Uma variação de preços tão grande tornou urgente a produção local de peças.
Está em curso um esforço para regionalizar a produção de peças de bicicleta. Algo que seria visto como protecionismo em outros momentos, hoje é uma questão de sobrevivência e também parte da busca para diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Um estoque de peças para fabricação de bicicletas todo vindo da Ásia é, além de uma dificuldade logística, um grande emissor de CO2.
O futuro é de bicicletas “Made in Europe”?
A fabricação de bicicletas no continente europeu sempre foi uma realidade e muitos fabricantes tinham planos de expansão da produção interna antes da pandemia. A covid acabou por acelerar esse remanejamento de capacidade produtiva mais para dentro da Europa.
Uma das marcas que entrou no coração da Europa foi a gigante taiwanesa Giant. Começaram a investir na Hungria em 2016, com o começo da construção de uma fábrica própria em 2018. A produção começou a acontecer em julho de 2020, bem no auge da pandemia. Mesmo com todas as dificuldades atuais, a produção segue dentro das metas estabelecidas.