Monóxido de Carbono: a ciência e o rumor de doping
Há pouco mais de seis meses uma nova fumaça encobre o ciclismo profissional. E ela tem nome: Monóxido de Carbono. O gás inodoro e tóxico está no centro de uma discussão sobre o quanto ele pode interferir na melhoria de desempenho dos ciclistas. Na teoria, inalar CO tem sido utilizado apenas para auxiliar na mensuração de resultados em treinamentos de altitude. A lista de adeptos inclui nomes como o esloveno Tadej Pogacar e o dinamarquês Jonas Vingegaard.
E isso é doping? Ainda não. Mas o presidente da UCI, o francês David Lappartient, pressiona publicamente para banir, pois há suspeita que o CO pode ser usado agente final no ganho de performance. . A WADA (Agência Mundial Antidoping) anunciou essa semana que avalia o pedido para incluir o método em sua lista de proibições. Porém, reforça que o uso de respiradores de CO para medir valores sanguíneos, a princípio, não deveria ser considerado nocivo ao #jogolimpo.
O Tramadol, por exemplo, foi inserido por um movimento iniciado pela UCI. É normal essa reflexão”, explica Adriana Taboza, presidente da ABCD
O que paira no ar é a suspeita de que as equipes evoluíram o método e tenham aprendido a aplicar a inalação de CO em um protocolo no qual haja ganho direto nos índices fisiológicos. Se não bastasse isso, consequentemente, uma exposição repetitiva ao gás também pode representar um risco à saúde dos ciclistas. O MPCC (Movimento por um Ciclismo Limpo) reviu sua opinião inicial e desaconselhou fortemente a técnica, sugerindo que ela deveria ser banida.
“Esse é o momento natural, tanto para a UCI solicitar quanto para a WADA revisar sua lista. O Tramadol, por exemplo, foi inserido após um movimento iniciado pela UCI, com a MPCC. É normal essa reflexão”, explica Adriana Taboza, presidente da ABCD, Agência Brasileira de Controle de Dopagem.
A principal fabricante dos inaladores, a dinamarquesa Detalo Health, defende que os aparelhos são seguros e eficazes e concluem: “Não é o gás o problema. O que pode fazer mal é a dosagem”. Carsten Lundby, CEO da empresa pede que a MPCC seja mais clara sobre o que ela pretende banir. “Já nos posicionamos inúmeras vezes e reforçaremos sempre: somos contra o uso do nosso inalador de CO com o intuito de aumentar os níveis de hemoglobina no sangue”, conclui.
Em seu site, a Detalo Health detalha o método de reinalação de monóxido de carbono (CO):
é uma técnica que pode ser usada para quantificar a massa de hemoglobina (Hbmass) em humanos.
O método é baseado no princípio de diluição, onde uma determinada quantidade de traçador (CO) é administrada à circulação, e onde a concentração subsequente de CO no sangue permite o cálculo da Hbmass. A partir desse volume de glóbulos vermelhos, o volume plasmático e o volume total de sangue são facilmente calculados.
A quantidade de CO administrada durante o teste se aproxima dos níveis atingidos após fumar um cigarro. Embora fumar cigarro certamente não seja recomendado, as preocupações com a saúde associadas a fumar apenas um cigarro são de fato limitadas.
O dinamarquês Jonas Vingegaard, campeão do Tour de France em 2022 e 2023, admite o uso e “que nem imaginava que isso poderia ser ilegal”. Já a equipe UAE-Emirates, de Tadej Pogacar, atual campeão do Tour e Mundial, afirmou que interrompeu imediatamente o uso do “respirador” antes mesmo de uma decisão da WADA. Jeroen Swart, diretor de performance da equipe explica, entretanto, que a mensuração de hemoglobina é uma técnica utilizada há mais de 20 anos, por várias modalidades de endurance quando seus atletas vão treinar em altitude. E sugere um exagero associar o método ao doping.