Inovação sobre duas rodas: a trajetória da Michelin no Brasil
Quem foi criança entre os anos 1970 e 1980, com certeza, tem na memória o boneco da Michelin que ia preso ao retrovisor dos caminhões ou que vinha impresso nos adesivos colados em carros e oficinas mecânicas. Uma imagem forte e marcante, assim como as estrelas que referenciam os melhores restaurantes do mundo no Guia Michelin. O que pouca gente sabe é que a origem desta marca de pneus, fundada em 1889 na França, foi a bicicleta.
Quem conta a história é Rafael Barboza, gerente de negócios de duas rodas da marca no Brasil, que ao lado do engenheiro Cleandro Rutzen, falou com o podcast da Aliança sobre a Michelin no Brasil. Para ouvir, clique aqui.
Era 1891 e os irmãos Édouard e André Michelin fabricavam pastilhas de freio quando um ciclista parou na fábrica em busca de ajuda. Na época, trocar pneu era quase um drama e levava horas. Édouard olhou a cena, enxergou a oportunidade e criou um pneu desmontável, capaz de ser trocado por qualquer pessoa em meia hora. Naquele mesmo ano, Charles Terront venceu a Paris-Brest-Paris usando os novos pneus Michelin. Ele era o único e no ano seguinte, milhares de ciclistas se renderam à novidade.
Isso explica, segundo Barboza, o carinho que a marca tem pelas bicicletas e na promoção do seu uso. Apesar de hoje a participação no mercado de bicicleta representar uma pequena parte, a ambição da Michelin em desenvolver este setor é grande. “O objetivo mundial da marca é expandir a nossa participação em produtos para modos de locomoção sustentáveis. Além da promoção do esporte e bem estar”, explica Barboza.
Michelin no Brasil
A presença da Michelin no Brasil começou na década de 70, mas apenas com a comercialização de pneus para caminhões. Gradualmente, a empresa expandiu suas operações, abrangendo pneus para veículos de passeio, agrícolas e de mineração.
A operação no setor de duas rodas no Brasil teve início há 10 anos, consolidando sua posição com a compra da Levorin, em 2016. “A aquisição foi uma oportunidade para a Michelin desenvolver nacionalmente produtos para bicicletas,” disse Rafael Barboza. “Com ela, conseguimos expandir nosso portfólio e fortalecer nossa presença no mercado.”
O forte da Levorin segue sendo os pneus de entrada, de aro rígido, que são produzidos do aro 14 ao 29, enquanto a Michelin é conhecida pelos pneus de Kevlar, que são importados e destinados para diversos segmentos, como MTB, speed, e-bike. A integração das duas marcas permite oferecer uma ampla gama de produtos, adaptados às necessidades específicas do mercado brasileiro.
Para desenvolver estes produtos, foi criada a engenharia de campo. “Eu participo de muitas competições e eventos em todo o país para entender as necessidades específicas do Brasil. A gente sabe que é um país continental e precisamos levar em conta desde o ciclista de Porto Alegre até o de Belém”, diz o engenheiro Cleandro Rutzen.
O grande desafio, segundo ele, é achar um bom equilíbrio entre a melhora dos atributos do produto e também levar em conta a experiência do usuário. “Sempre que você consegue melhorar uma característica acaba perdendo outra”, diz Barboza, dando como exemplo os pneus para e-bike. “A e-bike exige uma menor resistência ao rolamento, pois o equipamento precisa de economia de bateria. Só que a rolagem fácil faz com que a gente tenha de abrir mão, por exemplo, da durabilidade do pneu. Então, aplicamos todo o nosso know-how para conseguir equilibrar a durabilidade com a rolagem fácil.”
No Brasil, a Michelin adota uma estratégia de distribuição pulverizada, trabalhando com cerca de 30 a 40 distribuidores que levam seus produtos desde pequenas bicicletarias no interior até às bike shops nas grandes capitais. “Nossa distribuição é bastante ampla, mas sempre associada a outros produtos de bicicleta, pois entendemos que somos parte de uma linha de montagem e precisamos estar juntos com esses players para avançar”, explica Barboza.
Perspectivas para o futuro
Passada a turbulência da pandemia e do pós, Barboza está otimista com o mercado. “Tem sido um ano desafiador, pois estamos tendo mais demandas das montadoras e do mercado de distribuição. Estamos tendo que trazer novos grupos de trabalho dentro da fábrica para ter bom equilíbrio entre demanda e oferta”, diz ele. “Acreditamos que até o final do ano teremos um bom nível de ajuste, se não acontecer nenhum movimento radical no setor, devemos fechar o ano com números muito positivos e parecidos com o que tínhamos antes da pandemia. Esperamos ter em 2025 um crescimento robusto em relação ao deste ano.”
Para Barboza, o mercado brasileiro é promissor e enorme, mas existem ainda muitas travas para que se transforme em um país de ciclistas. “A quantidade de ciclovias é um limitante ao uso urbano, a falta de trilhas seguras para praticar o MTB em família, é outro desafio. Quem pedala de speed precisa de mais espaço para treino”, diz ele. A Michelin, segundo ele, acredita que a figura de grandes atletas, como Henrique Avancini, é fundamental para incentivar o uso da bicicleta e promover o esporte no país. “O aspiracional é muito importante para o mercado. Cada vez que temos grandes figuras que se destacam, isso traz o desejo de usar a bicicleta tanto para lazer quanto para esportes,” concluiu Barboza.
E se você chegou aqui e ainda está com a figura do boneco da Michelin nos pensamentos, mais uma curiosidade: ele foi criado em 1898 a partir da observação de duas pilhas altas de pneus. Os irmãos Michelin viram a cena e pediram ao desenhista O’Galop para transformar a imagem em mascote da empresa.
Para ouvir ao programa completo que gravamos com a Michelin, confira abaixo: