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“Somos todos atores nessa luta”

As iniciativas do ciclismo ajudam na conscientização e no melhor uso do recurso hídrico do planeta

Nesta semana, a equipe belga Soudal Quick-Step usou um uniforme especial para disputar a corrida local Nokere Koerse. O time do campeão olímpico Remco Evenepoel competiu com uma Jersey com tema ‘aquático’. A confecção é uma parceria entre a equipe, a fabricante Castelli e a empresa Ekopak. A ação pontual antecipou o Dia Mundial da Água, celebrado neste sábado (22/3).

O ciclismo como esporte, indústria, cicloturismo e instrumento de mobilidade urbana reúne notórios exemplos de como é necessário pensar e agir sobre o uso da água, em suas mais variadas vertentes. Todos têm a sua participação nesse compromisso.

“As coisas precisam mudar hoje. Estamos próximos de um ponto de não-retorno. E isso vai impactar a forma como usufruímos dos espaços e de um recurso tão essencial quanto a água”, explica Sandra Koch, ultramaratonista aquática e consultora ambiental.

COMEÇA PELA GENTE!

Segundo a especialista, iniciativas que preservem esse recurso significam também manter intacto o palco onde se desfruta do grande prazer que é pedalar. “As associações são inúmeras. Afinal, somos bioindicadores da água. Mas, sendo mais lúdica, nada como uma boa trilha com uma bela cachoeira em sua rota”.

Estar perto da natureza e conhecer as fontes de água da sua região são condições essenciais, de acordo com a consultora, para que os ciclistas tenham dimensão dos próprio impacto que ele causa. “Preservar uma nascente, entender a importância de fazer as trilhas sem impactá-las, por exemplo, é algo básico. Mas prioritário. Somos todos atores nessa luta”.

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

A proposta de criar uma comemoração anual com foco na importância da água surgiu durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro.

Desde 1993, portanto, é em 22 de março que as discussões em torno do uso desse recurso são reforçadas. E não dá para chamar bem de uma “comemoração”. De acordo com a própria ONU, aproximadamente 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável gerenciada com segurança. E cerca de 115 milhões de pessoas consomem conscientemente água contaminada.

Até empresa de água mineral, a alemã Gerolsteiner, já patrocinou uma equipe de ciclismo nos anos 90 e 2000.

O IMPACTO DA INDÚSTRIA

Este ano, o Dia Mundial da Água adota como tema a Preservação das Geleiras, que reforça principalmente a importância do gelo, da neve e das geleiras nos extremos do planeta para o sistema climático e o ciclo da água para o equilíbrio socioambiental e econômico do planeta.

O aquecimento global (que influencia no derretimento das geleiras) tem sido pauta constante pela indústria e o ciclismo está nesse processo, como já relatamos anteriormente no #BicicletaNews, com o Relatório de Sustentabilidade da Trek.

Outra iniciativa é o Shift Cycling, um movimento que reúne grande parte das marcas de ciclismo (confira aqui) em busca de iniciativas que reduzam a emissão de CO2 em toda sua cadeia produtiva.

Metas da Shift Cycling

  • Reduzir as emissões relacionadas à produção
  • Criar produtos que durem mais
  • Trabalhar com os clientes na manutenção e extensão da vida útil dos produtos
  • Desenvolver um sistema de circuito fechado para recuperar materiais

MENOS LIXO NOS RIOS E MARES

Desde 2022, mais de 50 marcas se reuniram para a adequação das embalagens para otimizar a quantidade de material emprega ao acomodar e transportas bicicletas e acessórios.

dia mundial da água

Embalagem otimizada, menos lixo descartado

Estima-se que em 2019, antes da pandemia, as embalagens de produtos geravam um volume descartado de 79,3 milhões de toneladas. A maior parte: papel, papelão e plástico – todos elementos presentes nas caixas de novas bicicletas. Quando não reciclados corretamente, esse materiais contaminam os mananciais dos rios e os oceanos.

OS BELGAS VESTEM A CAMISA

A Ekopak é uma empresa especializada em gestão de água e esgoto, ajudando a reduzir a quantidade de água que as empresas consomem com soluções de otimização, reuso e reciclagem que ajudam o meio ambiente e, consequentemente, o palco das provas de bicicleta.

O tema tão valioso para todos nós teve também um senso de oportunidade, já que a empresa inaugurou uma nova unidade bem na cidade de largada da prova, em Deinze.

Novo CEO da equipe Soudal Quick-Step, Jurgen Foré explica o valor desta iniciativa e como ela parte importante da mentalidade de um pelotão focado em reduzir o impacto ambiental: “Através do nosso projeto #ItStartsWithUs (Começa pela gente), acreditamos fortemente na sustentabilidade tanto com a água quanto com os recursos que usamos em nossa equipe. Teremos orgulho de vestir esta camisa para destacar a importância de economizar água e criar um futuro melhor para as próximas gerações.”

Na Bélgica, o Dia Mundial da Água se transforma em uma semana inteira de atividades, com tópicos que envolvem a bicicleta e são sustentados em quatro pontos que servem para todo mundo:

  • Aumentar a conscientização sobre a gestão sustentável da água
  • Proteger o recurso natural da água
  • Redescobrir o papel da água na vida diária
  • Chamada para ação para proteger a água para as gerações futuras

BICICLETAS PELA ÁGUA NA ÁFRICA

A World Bicycle Relief anualmente aposta na bicicleta para democratizar o acesso acesso à educação, mercados, instalações de saúde e, entre outros, à água potável. Tanto no Quênia quanto no Zimbábue, as Buffalo Bike ajudam a minimizar o que estima-se ser 40 bilhões de horas gastas por ano em deslocamentos de 10, 15 quilômetros diárias em busca de água. Essa rotina exaustiva impacta mais as mulheres e as crianças. E, portanto, interfere diretamente ao acesso à educação por garotos e garotas exaustas pelo transporte dos galões de água.

dia mundial da água

A World Bicycle Relief trabalha com doações de entusiastas do mundo todo

CARAMANHOLAS BIODEGRADÁVEIS

O instrumento mais utilizado pelo ciclista para o consumo de água também pode contribuir pelo planeta. A garrafinha de ciclismo, tradicionalmente conhecida como caramanhola, é uma solução e um problema. Só no pelotão profissional, todavia, são utilizadas anualmente 630.000 garrafas. No Tour de France, são cerca de 70.000.

Um ciclista usa 775 caramanholas por ano!

Artigo de coleção para os fãs, as caramanholas seguem um rígido controle da UCI (União Ciclística Internacional) para que ela não seja descartada em qualquer lugar. Principalmente, nas zonas rurais, onde poderiam demorar anos para se decompor.

Dia Mundial da Água

A princípio, as maiores marcas do segmento já apresentam modelos de menor impacto e biodegradáveis. A equipe EF Education anunciou antes do Giro d’Italia de 2022, garrafinhas “verdes” com a capacidade de ser absorvidas em até 3 meses pela natureza.

“Cuidado ambiental não é despesa. Muito do que assistimos hoje é quase uma maquiagem. As empresas e os governantes fazem o mínimo exigido. Mas as consequências para quem não se esforçar, todavia, serão nítidas. Já são. Aqui na minha região, entretanto, a Bacia do Itajaí sofre sem que decisões importantes sejam tomadas. Não podemos deixar essa decisão na mão dos outros. Quando todo mundo é culpado, ninguém é responsável. Ninguém se acha culpado”, conclui Sandra Koch.

 

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