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Com R$ 59 na conta e o Juliano no cestinho: quem é a paulista que pedala a caminho do Ushuaia acompanhada de seu cachorro

13 de setembro de 2023

Gabrielle saiu de Campinas com 59 reais na conta bancária e o objetivo de chegar ao  “Fim do Mundo”. Junto com ela apenas o Juliano, seu cachorro e companheiro de jornada que viaja confortavelmente no cestinho da bike

“Na verdade eu não estou viajando, isso aqui é um estilo de vida”, define a campinense em uma live no Instagram realizada no dia 1º de agosto com um dos amigos que conheceu quando ambos viajavam pela Amazônia. “Apesar de eu ter um destino, minha vida é nômade e essa é só uma parte dela”.

Nem sempre foi assim. Na verdade, a bicicleta só começou a fazer parte da vida da campinense com mais frequência em março deste ano, quando ela saiu da sua cidade e iniciou o caminho até a cidade mais austral do Planeta, na Patagônia argentina. “Eu viajei muito tempo de Kombi. Fui para o norte do país no ano passado e nessa jornada eu passei dias morando dentro da perua. O Juliano vinha comigo e mais quem quisesse entrar era bem-vindo. Quando eu voltei pra São Paulo, fiquei pensando em outra forma de cair na estrada e a bicicleta sempre fez muito sentido para mim. É extremamente barata, faz bem para a saúde e ainda permite uma viagem mais imersiva, contemplativa”.

Mesmo sem pedalar há uns anos, Gabrielle já tinha conversado muito com viajantes que faziam trajetos exclusivamente de bike. Ela se encantou pela liberdade que a bicicleta proporciona e por histórias que quase todos eles contavam sobre as vivências que haviam passado: “Era impressionante como quase todo mundo dizia que viajar de bike era surpreendente pela quantidade de ajuda que você recebe sem pedir. Eles [viajantes] falavam que as pessoas eram muito mais solícitas e gentis com os ciclistas, mas eu não entendi isso até começar a pedalar. É impressionante como as pessoas se solidarizam e se preocupam com você”.

Gabrielle tem algumas ideias do porquê isso acontece: a vulnerabilidade da bicicleta em relação aos carros, as longas distâncias percorridas diariamente, o cansaço decorrente da viagem e o fato de ser mulher são algumas delas. Porém, ela lembra de um detalhe que provavelmente ajuda a sensibilizar ainda mais as pessoas: o mascote de quatro patas que vai com ela.

“O Juliano faz muito mais sucesso que eu (risos) e muitas vezes perguntam como ele está sem nem perguntar se eu estou bem e essa preocupação é muito genuína das pessoas”. No auge da sua tranquilidade, Juliano realmente é um bom companheiro de viagens. Ele vai sentado na cesta da bike, logo à frente do guidão e raramente dá sinais de irritação ou cansaço. Pelo contrário, ele que costuma lembrar a ciclista quando as pedaladas parecem mais longas: “Vira e mexe ele olha pra mim como quem diz ‘e aí, não vai descansar não?’ Se não fosse por isso, eu até esqueceria que ele está comigo às vezes, tamanha a calma que o Juju apresenta”.

Desde o começo ela diz colocar seu companheiro em primeiro lugar na viagem, inclusive no planejamento financeiro. O principal gasto cotidiano é com a ração para o Juju e as paradas e programas que podem ser feitas são sempre de acordo com a possibilidade dele estar presente ou não: “Eu escolhi trazer ele para viajar comigo e sempre soube que a viagem seria nossa, juntos. Poderia ter deixado ele na minha mãe se quisesse, mas a partir do momento que eu decidi fazer isso com ele, a minha prioridade sempre vai ser fazer as coisas que ele também pode fazer. Acho que, no final, ele curte mais do que eu (risos)”.

Atualmente em Florianópolis, após ter passado por cidades como Sorocaba, Liberdade, Votorantim, Registro, Curitiba e várias outras, ela não sabe dizer nem qual foi o lugar que mais gostou, entre tanto, nem o principal “perrengue” da viagem. Mesmo após ter dormido abaixo de uma lona de uma bar na beira da estrada e ter ficado uns dias sem banho, nada disso se encaixa na definição de sufoco para Gabrielle: “Perrengue mesmo eu não vivi não. Por eu não ter um roteiro fechado nem um caminho, eu vou abraçando o que o destino me aguarda. Não tem escolha certa ou errada, só as coisas que acontecem e a gente vai se adaptando a elas. Por isso, acho que não teve nada que se enquadre nessa definição de dificuldade não”.

Como de costume em suas falas, Gabrielle sempre tem boas reflexões sobre o modo de vida que escolheu e sobre as coisas que têm vivido na estrada. O desejo por uma vida nômade veio exatamente por conta de uma dessas reflexões, quando ela perdeu um amigo jovem. “Eu tinha 25 anos e trabalhava em uma loja, como atendente. A minha vida era tranquila, mas sempre parecia que existia aquele roteiro entre casa, trabalho, trabalho e casa. Não era isso que eu queria e perder um amigo de tanto tempo me fez repensar muita coisa da minha vida. A principal delas talvez tenha sido entender que a vida é agora. O futuro só existe pras coisas materiais que a gente um dia sonha em comprar. Talvez uma casa, um bem, dinheiro. Para isso o futuro existe. Para o resto, só existe o hoje e se a gente quer se descobrir, crescer e evoluir, aí sim só existe o agora, o momento presente”.

Na véspera de completar 28 anos, Gabi comemora quase 3 anos de viagens e vida nômade. A ideia de aproveitar o presente e deixar a vida levar é algo que ela realmente persegue no dia a dia. Talvez o maior exemplo seja a forma com que ela iniciou sua jornada com o objetivo de chegar a Ushuaia: “Ninguém acredita quando eu falo, mas eu saí de São Paulo com 59 reais na conta. Na hora, deu um frio na barriga, mas eu pensei: se eu ficar esperando tudo ficar perfeito para fazer as coisas que eu quero, nunca vou começar essa viagem. Essa coisa de ter o melhor momento não existe. O momento certo é agora”.

E assim são mais de 5 meses de muito asfalto e pedaladas e com um financiamento ainda inconstante, como ela gosta de enxergar: “Eu não tenho uma fonte de renda fixa, mas algumas coisas que faço me ajudam. Vendo adesivos, tenho um canal no Youtube que ainda não monetiza, mas a ideia é ganhar algo com ele em breve… No mais, vou conseguindo uma ajuda aqui e ali. Muita gente me para e me dá dinheiro sem eu sequer pedir, do nada. Alguns nem me dão bom dia: só estendem a mão e me dão algumas notas para me ajudar. Fora isso, eu sempre consigo uma refeição aqui e outra ali pela bondade das pessoas”.

Entre cafézinhos na casa de locais e almoços nos mais diferentes lugares, ela vai pedalando rumo ao Ushuaia e colecionando histórias. No momento em que mais se emociona para falar, ela compartilha a sensação que mais a acompanha na estrada: “A maioria das pessoas que eu encontro é de muita bondade. A maioria me ajuda sem eu pedir ou se oferece para me auxiliar em diversas coisas. Apesar de eu estar sempre atenta e saber dos riscos que corro, eu percebo que a maioria daqueles que encontro no caminho são pessoas do bem e que estão realmente interessados e curiosos no que estou fazendo. Isso me conforta muito”.

Gabrielle e Juliano contam a sua trajetória no Youtube e na página da dupla no Instagram. Não deixe de seguir e acompanhar um pouco dessa jornada de mais de 5.000 km.

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Aliança Bike

Criada em 2003 e formalizada em 2009, a Aliança Bike tem como missão principal fortalecer a economia da bicicleta, além de trabalhar para que mais pessoas pedalem no Brasil. A entidade atua em diversas frentes de trabalho para atingir os objetivos. Conta com mais de 180 associados entre fabricantes, montadores, importadores, distribuidores e lojistas.

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