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A história da Specialized no Brasil: a chegada e sua influência no mercado nacional

Marcelo Maciel e Daniel Aliperti contam como foi a chegada ao país de uma das marcas mais importantes globalmente e como ela influenciou o mercado e o surgimento do MTB

25 de julho de 2023

A história da chegada e estabelecimento da Specialized no Brasil pode ser contada em três atos, todos com a participação de atores repletos de paixão pelo pedalar e espírito empreendedor. Características, aliás, que fazem parte da alma da marca, que começou em 1974, na Califórnia, quando Mike Sinyard vendeu uma Kombi para financiar uma viagem de bicicleta pela Europa. De maneira bem resumida: na Itália conheceu um fabricante e tornou-se importador e representante da marca nos EUA, pouco depois passou a fabricar bicicletas, lançando em 1981 a StumpJumper, a primeira mountain bike produzida em série, a Allez (estrada) e a Sequoia (cicloturismo).

Mas voltando à chegada da marca ao Brasil. O primeiro ato aconteceu em São Paulo, no final dos anos 80, quando o Mountain Bike começava a se popularizar por aqui com a realização das primeiras provas. Eram tempos diferentes e os apaixonados pelo assunto precisavam percorrer as bancas de revistas nos bairros nobres da cidade em busca das publicações que traziam as novidades sobre o esporte e o mercado americano.

Nesse momento, em 1989, entram em cena os irmãos Roberto e Luiz Dranger, que começaram a importar as bicicletas da Specialized para o Brasil. O negócio foi bem sucedido, o que resultou em ótima relação com a marca. Tanto que em 1993, Daniel Aliperti, o primeiro mecânico especializado em bicicletas de alto nível, foi convidado a fazer parte do Training Camp da equipe de MTB da época, realizado no Arizona. Além de pedalar com a equipe da marca, também competiu na Cactus Cup, copa de XCO patrocinada pela Specialized.

Em 1992, os irmãos decidiram dar um passo ainda maior e fizeram um acordo com a Caloi, que passou a produzir o modelo Specialized Hard Rock na Zona Franca de Manaus. Alguns anos depois, os irmãos saem de cena e em 1998, a Specialized segue o mesmo destino. A Caloi foi vendida e o contrato com a marca americana não teria entrado na negociação.

Houve um intervalo da marca no país que durou cerca de seis anos. É nesse período que começa o segundo ato com os então sócios Marcelo Maciel e Daniel Aliperti, já estabelecidos com a Pedal Power e a Proparts. Maciel conhecia bem a marca, pois era um daqueles apaixonados que percorriam as bancas de revistas em busca de informações sobre o esporte, as marcas e o mercado americano.

“Eu ficava inconformado ao perceber que uma marca tão apreciada estava fora do mercado brasileiro. Em uma conversa com o Dany, a gente decidiu trazê-la de volta”, lembra. Era 2004, e os dois aproveitaram os contatos que Daniel já tinha com a marca por conta da participação no Training Camp e seguiram para Morgan Hill, na Califórnia, onde fica a sede da Specialized. Lá, souberam que a relação com o Brasil não acabou bem e o clima estava meio azedo. Por fim, ainda ouviram do diretor de comércio internacional que a marca preferia não estar por aqui.

Os dois não desistiram, pois sabiam das boas credenciais da Proparts, criada pela dupla em 1992, e do potencial do mercado brasileiro. “Para nos testar, o diretor nos deu a incumbência de resolver processos de garantia que o antigo distribuidor não concluiu e assim começamos”, lembra Daniel. “Fomos resolvendo tudo e conseguimos comprar algumas bikes e alguns equipamentos, pois já havíamos perdido a janela de compras para o ano modelo 2004. O início de trabalho mais estruturado foi com a linha 2005 e daí em diante fomos reconquistando clientes e a marca voltou a ter a força que tinha no final dos anos 90.”

Maciel conta que a Specialized era tão conhecida e admirada que a campanha de relançamento da marca tinha o slogan “Ela Voltou!”. “Nosso investimento foi muito mais na operação do que em marketing. Nossos recursos eram todos destinados à compra de bicicleta”, explica Maciel. Segundo ele, o mercado na época era bem menor do que é hoje. “Para se ter uma ideia, nós conhecíamos todos os nossos clientes a ponto de trocar mensagens”, lembra ele.

A chegada da Specialized coincide com um momento importante para o mercado de bicicletas. Outras marcas começaram a desembarcar por aqui e foram trazidas por outros apaixonados por bicicletas. “Os concorrentes eram amigos de pedal, então tínhamos uma concorrência entre parceiros”, explica Maciel.

Importante lembrar que, nessa época, a chegada dessa e de outras marcas, mudaram o mercado para sempre. Foi justamente nesse período, por exemplo, que surgiram as primeiras conversas entre Marcelo Maciel e Giancarlo Clini, para a criação da Aliança Bike. “Ninguém se fechou, nos unimos nos pontos em comuns dos concorrentes para fortalecer a bicicleta e o mercado.”

Foi um retorno rápido e de reconhecimento imediato. Mas também foram anos suados, especialmente no setor financeiro e de logística. “O processo de compra da marca começava em abril, quando a gente ia para uma reunião para conhecer os lançamentos e já precisávamos escolher quantidades e modelos para trabalhar no ano seguinte”, explica ele. “Em dois anos a operação estava girando, embora não tenha tido retorno financeiro. Mas ficamos maiores. A empresa cresceu com a Specialized!”

Maciel lembra que a marca cresceu de maneira exponencial desde a sua chegada. “Quando fizemos a nossa primeira compra, em 2004, a Specialized tinha uma oferta de mais ou menos 30 modelos. Em 2010, a oferta já passava de uma centena.”

Até que em 2010 a história deu outra reviravolta e os atores mudam de papel no terceiro ato, quando por uma decisão mundial a Specialized decide mudar a sua operação internacional. Então, de representante da marca, Maciel foi contratado para fazer a implantação da subsidiária no Brasil, processo que durou pouco mais de dois anos. Foram momentos difíceis, conta ele, a começar pela falta de clareza sobre o processo. “Fomos informados de que viriam, mas nunca diziam quando e como”, explica ele. “Nessa época, a marca americana respondia por 70% dos negócios da Proparts. Então foi um processo bastante sofrido.”

Maciel foi o responsável por montar a primeira equipe da Specialized no Brasil, assim como o primeiro escritório e todos os trâmites burocráticos e de mercado. Ao mesmo tempo, seguiu no comando da Proparts, da Pedal Power e da presidência da Aliança Bike. Quando a subsede da marca estava consolidada, em 2012, deixou o cargo para cuidar de seus negócios.“Gostei muito desses dois anos!” Atualmente, segue à frente da Proparts, com dezenas de marcas líderes no setor de bicicletas, e entende que a Specialized segue liderando e continua com o mesmo DNA.

Daniel Aliperti segue ligado à marca, seja como usuário – sua primeira Specialized foi uma Stumpjumper 1988 – e atualmente como funcionário. “Ajudo no gerenciamento da loja que fundei, e que hoje pertence à Specialized. Além da co-participação na liderança, também continuo a atender os ciclistas no Bike Fit.”

Linha do tempo

  • 1974 – A Specialized é criada na Califórnia, em princípio importando peças de bicicleta da Europa
  • 1981 – Lançamento da StumpJumper, a primeira mountain bike produzida em série
  • 1989 – Os irmãos Roberto e Luiz Dranger começaram a importar as bicicletas da Specialized para o Brasil
  • 1992 – Início da parceria da Specialized com a Caloi para produção, no Brasil, da Rockhopper
  • 1999 – Saída da marca do Brasil
  • 2004 – Retomada da Specialized no Brasil através da Proparts, com Marcelo Maciel e Daniel Aliperti
  • 2010 – Inicio do processo de implantação da subsidiária da Specialized no Brasil

Veja mais fotos em: guru.pedalpower.com.br/historia/

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Adriana Marmo

Sou jornalista, formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo na PUC de Campinas, conclusão em 1989. Há oito anos troquei o carro pela bicicleta como meio de transporte e, desde então, sou ativista da causa e me especializei em mobilidade urbana

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