Discussão climática, COP-26 vai acontecer no berço das bicicletas
No mês de outubro, líderes mundiais estarão em Glasgow, na Escócia para a 26ª Conferência das Partes (a COP26). O encontro será a apenas 100 km do vilarejo de Keir onde nasceu Kirkpatrick Macmillan, que no ano de 1839 inventou a primeira bicicleta movida a pedal.
Durante a COP, membros de governos, sociedade civil e empresas de diversos países do mundo terão que buscar acelerar ações para o combate às mudanças climáticas. Com cada vez mais eventos climáticos extremos, a preocupação com o clima e as emissões de CO2 é urgente.
A indústria de bicicleta produz o veículo perfeito para diminuir as emissões de CO2 nas cidades, mas também precisa lidar com as suas próprias emissões. A melhor solução para o transporte urbano é feita dentro de fábricas convencionais, requer combustíveis fósseis para o transporte e gera muitas emissões até poder ser usada por ciclistas.
Indústria da bicicleta está focada em resultados ambientais positivos
Desde 2019, a indústria das atividades ao ar livre, o que inclui a bicicleta e outros esportes, tem buscado unir esforços para avaliar seus impactos e liderar a transformação para um futuro de baixo carbono.
A meta é ambiciosa, trazer impactos positivos para o clima até 2030. Na prática, significa que todas as emissões de gases de efeito estufa geradas pela indústria serão compensadas. Medido através da sigla CO2e (gás carbônico equivalente), o impacto do setor deverá gerar um saldo que retire da atmosfera mais do que toda a quantidade de toneladas de CO2e que lança.
Uma das signatárias do pacto por emissões positivas até 2030, a Specialized já começou a mapear o impacto que gera. Os números preliminares dão conta que 80% das emissões provém da cadeia de suprimentos, certamente o maior desafio.
Para garantir o “dever de casa” e compensar as emissões na sede da empresa na Califórnia, a Specialized instalou painéis solares e também compra energia limpa para alimentar a fabricação de garrafas d’água e seu túnel de vento.
Relatório de sustentabilidade no setor de bicicletas
Para reduzir os impactos negativos no meio ambiente, a Trek primeiro mapeou as emissões geradas por suas ações. Da produção até chegar a primeira pedalada por clientes da marca.
Uma das descobertas da empresa, que diz respeito a todo o setor, é que os quadros de carbono emitem 3 vezes mais CO2 do que um quadro de liga metálica.
Com o objetivo central de ser uma empresa mais sustentável, globalmente, a fabricante norte-americana buscou olhar com atenção as áreas de maior impacto negativo. A estratégia focou em 10 ações prioritárias. São elas:
10. Reduzir o transporte aéreo;
9. Consolidar os envios para os distribuidores;
8. Aumentar a utilização das energias renováveis;
7. Reduzir as viagens corporativas;
6. Aumentar a utilização de materiais alternativos;
5. Garantir que suas fábricas não enviem resíduos para aterros sanitários;
4. Criar e proteger trilhas de MTB;
3. Remover os resíduos de plástico das embalagens;
2. Aumentar o acesso a bicicletas compartilhadas;
1. Colocar mais gente para pedalar.
Os materiais alternativos embarcam desde o reaproveitamento de redes de pesca usadas, até o aumento do uso do papelão nas embalagens. O compromisso principal é zerar a quantidade de plástico nas embalagens.
Já para a promoção do uso da bicicleta, a marca irá seguir promovendo sua campanha global #GoByBike. Lançada em 2020, a iniciativa visa que cada vez mais pessoas troquem o uso do carro pela bicicleta.
Os números dão conta da importância do incentivo para que as pessoas troquem o carro pela bicicleta. Para compensar as emissões de uma bicicleta nova, basta que o ciclista pedale 2km por dia ao invés de usar o carro durante um ano. A partir dos 692 km pedalados, uma nova bicicleta já passa a ter uma pegada negativa de carbono.
Após esse primeiro levantamento de impacto, a Trek irá realizar um mapeamento rotineiro da pegada ambiental da empresa, com relatórios periódicos. Felizmente a iniciativa está longe de ser um movimento isolado. O mercado global já está se movimentando em favor da redução de emissões.
Dobrar vendas de equipamentos e cortar emissões pela metade
Ao divulgar os resultados para o primeiro trimestre de 2021, a Thule divulgou também a sua meta de expansão para a década. A empresa quer chegar em uma taxa de crescimento das vendas acima dos 7% ao ano.
O grande diferencial é que o crescimento no resultado financeiro precisa vir acompanhado também de metas ambiciosas na redução de emissões e do impacto ambiental de toda a cadeia. O grupo sueco quer reduzir as emissões do seu processo fabril em 46% até 2030, no comparativo com o ano base de 2019.
Também com base em 2019, a Thule quer reduzir suas emissões relativas a compras de material e toda a sua logística em 28%.
Mapeamento de emissões na fabricação de componentes de bicicleta
Parte do grupo das empresas que ainda não disponibiliza seu relatório de emissões, a SRAM já mapeou o impacto gerado pelas suas instalações próprias. O próximo passo é estabelecer o tamanho completo da sua pegada de carbono e definir sua meta de emissões.
O cálculo de emissões se divide em três níveis, chamados de escopos. As emissões de escopo 1 são aquelas vindas através da operação direta da empresa. Os gases gerados por veículos da empresa ou controlados por ela, por exemplo.
Já o escopo 2 são as emissões indiretas, aquelas vindas da energia elétrica consumida pela empresa. As emissões na conta de luz, do ar condicionado do escritório até a energia do maquinário, entram nesse escopo.
A última classificação, o escopo 3, diz respeito a todas as emissões indiretas que não fazem parte do escopo 2. Nessa conta estão desde a matéria prima até as viagens corporativas, resíduos, transporte, distribuição e até mesmo o deslocamento dos colaboradores.
Redução de gases estufa no esporte
A transição para uma economia de baixo carbono vai além de governos e empresas. A responsabilidade compartilhada é fundamental. Teve ciclista disposto a pedalar 2.000 km para chamar a atenção sobre a importância da COP, mas não é preciso um desafio individual tão grande.
Em um esforço coletivo, a federação britânica de triathlon criou uma comissão de sustentabilidade. Aberta aos atletas interessados, a iniciativa quer construir impactos positivos no esporte desde a base até as competições de ponta.
Impacto positivo da bicicleta está nas cidades
Enquanto o mercado da bicicleta trabalha para zerar os impactos ambientais das suas atividades, é nas cidades que o veículo que a indústria produz contribui decisivamente para reduz as emissões. Uma pressão conjunta da sociedade civil é fundamental.
Um bom exemplo é o que a Cycling UK promove, usando a COP26 como gancho, encorajam ciclistas britânicos a pressionarem os seus representantes (equivalente aos deputados) por compromissos conjuntos de todo o Reino Unido em favor da bicicleta.
Do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, a luta da sociedade civil é para que a administração da cidade promova uma mudança de olhar. O momento é perfeito para garantir um futuro mais verde.
A lógica de um relatório recente para a cidade é investir na resiliência urbana, removendo asfalto de ruas para aumentar a permeabilidade e evitar enchentes, até mesmo soluções menos ousadas, como promoção de espaços públicos verdes.
Mudanças climáticas podem ser um fator de ansiedade e medo, as nuvens de poeira no interior do Brasil são um exemplo recente, mas através da bicicleta é possível construir um futuro com mais qualidade de vida para as pessoas e menos impactos ambientais negativos para o planeta.
Agradecimentos
O Bicicleta News Especial é uma iniciativa da Aliança Bike com o apoio do Itaú Unibanco.
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Boa tarde!
Sou iniciante no ciclismo e estava fazendo algumas pesquisas básicas que tenho curiosidade.
Será que conseguem me ajudar?
Gostaria de saber a quantidade de ciclistas no mundo e no Brasil, mas só encontro em porcentagem teria essa estatística em números?