Vinicius Rangel nega doping e comenta suspensão de 20 meses
Após a notícia ter repercutido nas mídias especializadas do mundo inteiro, o ciclista brasileiro Vinicius Rangel Costa (Swift Pro Cycling) publicou nas suas redes sociais um vídeo para esclarecer os motivos que levaram à suspensão de 20 meses imposta pela União Ciclista Internacional (UCI). O ciclista acumulou três advertências por ausência aos controles antidoping (whereabouts) ao longo de um ano. Segundo ele, causadas principalmente por dificuldades de comunicação e atualização da sua localização.
No vídeo, o ciclista de 24 anos admite problemas com o idioma, já que o sistema da UCI opera exclusivamente em francês e inglês: “Foi uma falha na comunicação com a UCI, principalmente por causa da língua, que só aceita francês e inglês”, relatou.
Representante nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Vinicius ressaltou contudo que nunca utilizou substâncias proibidas e sempre procurou respeitar as regras do esporte. Entretanto, reconheceu erros nos procedimentos burocráticos: “Busquei honrar o esporte e competir de forma justa. Admito que cometi equívocos nos protocolos. Aprendi a importância de estar atento aos detalhes fora das competições também”, escreveu na publicação do Instagram.
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Campeão brasileiro de estrada em 2022 e único brasileiro com passagem pelo circuito World Tour masculino nos últimos 10 anos, Vinicius recebeu a suspensão após não ser encontrado em três ocasiões de controle em um período de 12 meses. Duas delas, todavia, ele ainda representava a equipe espanhola Movistar.
Com isso, ele ficará afastado das competições até abril de 2027. O esportista encara o período como uma oportunidade de aprendizado e fortalecimento: “Este tempo será de crescimento e de aprendizado. Voltarei mais forte e comprometido com a transparência e a melhora do ciclismo. O esporte é sobre vitórias, mas também sobre lições. E esta é uma das mais importantes da minha vida”, concluiu Vinicius Rangel.
Whereabouts e doping
Print ilustrativo do sistema Adams de controle antidoping
Os “whereabouts” são informações detalhadas de localização que atletas de alto rendimento fornecem, obrigatoriamente, às autoridades antidopagem. O ciclismo foi o primeiro esporte a adotar a medida, que hoje se estende para todos os esportes olímpicos.
O objetivo é permitir que esses atletas sejam encontrados a qualquer momento para a realização de testes antidoping fora de competição, sem aviso prévio. Apesar do ciclista ter reclamado das dificuldades do idioma, a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) mantém uma página com explicações detalhadas de como manter as infos atualizadas (leia aqui).
Essas informações incluem endereço de pernoite, locais e horários de treinamentos, compromissos esportivos e, principalmente, um período de 60 minutos diários em que o atleta declare estar disponível em um local específico para eventual testagem.
O preenchimento correto e atualizado do sistema de whereabouts é obrigatório para atletas inseridos em grupos alvo de teste. Assim, a falta de atualização ou dados incorretos são violações. E uma das sanções previstas é a suspensão se houver três falhas em um período de 12 meses.
Resumidamente, mais do que um indicativo de doping, os whereabouts são um mecanismo essencial para garantir a eficácia do controle antidopagem fora das competições, promovendo lisura e igualdade de condições no esporte de alto rendimento.
Suspenso por falhas
O mais famoso caso de suspensão por “whereabouts” remete aos anos 2000, quando o dinamarquês Michael Rasmussen liderava o Tour de France. Um comentarista esportivo elogiou o treinamento de Rasmussen na Itália, enquanto jornalistas investigaram que no mesmo período ele dizia estar no México.
Um longo processo mostrou que o escalador tinha um método sistêmico de mandar cartas (sim, em papel) para a UCI na Suíça enquanto se deslocava para diferentes lugares. Sem nunca ter ido ao México. O tempo também revelou que ele usava dessas escapadas para uso de doping.
Recentemente, outros ciclistas também foram suspensos por falhas no controle, como os mountain bikers Gerardo Ulloa e Vlad Dascalu. Ambos, contudo, já retornaram ao circuito.
