Rapha veste vermelho

A marca de origem britânica Rapha vive um dos momentos mais desafiadores de sua história. Conhecida mundialmente por sua imagem premium no vestuário ciclístico, a empresa atravessa uma fase de reestruturação profunda após registrar o oitavo ano consecutivo de prejuízo financeiro.

Queda de valor e prejuízos persistentes

De acordo com relatórios recentemente publicados, a Rapha apresentou um faturamento de £96,2 milhões (algo equivalente a R$ 609 milhões) no exercício encerrado em janeiro de 2025. Um prejuízo líquido de R$ 100 milhões — o oitavo consecutivo desde 2017, quando foi adquirida pelos herdeiros da família Walton, fundadores do Walmart.

A controladora Carpegna Ltd reduziu o valor contábil da marca de R$ 1 bilhão para pouco mais de R$ 400 milhões. Um corte de mais de 60%. Além disso, a empresa registrou um EBITDA negativo de R$ 17 milhões no mesmo período — revertendo o resultado positivo de R$ 6,5 milhões no ano anterior.

Segundo a diretora financeira Michelle Woolaghan, essa queda foi uma decisão deliberada, motivada pela redução de liquidações e promoções. Uma tentativa, contudo, de “curar” a marca da “dependência de descontos” que corroía sua percepção de exclusividade.

Reestruturação e aposta no reposicionamento

Rapha e a equipe EF Education romperam após anos de uma próspera parceria

Desde que assumiu o comando da marca, Fran Millar — ex-diretora do Team Sky — tem buscado reconstruir a identidade premium da Rapha. A executiva vem reduzindo o portfólio de produtos e reforçando o posicionamento voltado à qualidade e à experiência de marca. Millar reconhece que os números ainda são negativos, mas afirma que a base para um retorno à lucratividade está sendo consolidada.

Parte dessa reformulação envolve uma nova estratégia esportiva: a Rapha encerrou sua parceria com a EF Education-EasyPost. Ao mesmo tempo, assinou um ambicioso acordo com a USA Cycling, válido de 2026 a 2029, que inclui uniformes para modalidades olímpicas e paraciclismo.

O objetivo é fortalecer a presença nos Estados Unidos e associar a marca aos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, vistos como um marco na retomada de sua imagem global.

Um futuro cauteloso, mas promissor

A Rapha ainda enfrenta o peso do processo de amortização da compra feita em 2017. A negociação gera uma despesa anual de cerca de R$ 60 milhões — o que continuará impactando os resultados por quase uma década. Apesar disso, Woolaghan e Millar demonstram confiança em alcançar um EBITDA positivo até 2027 e restaurar a autossuficiência financeira.

Mesmo fragilizada, a Rapha mantém uma posição de destaque no mercado de roupas premium para ciclismo, sustentada por sua forte comunidade global, o Rapha Cycling Club (RCC). E por um legado de inovação em estética e narrativa esportiva. A atual fase, marcada por perdas e reavaliação, pode ser o ponto de inflexão que definirá se a marca conseguirá transformar a crise em um novo capítulo de crescimento e reconexão com seu público original.