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As Estrelas do Ciclismo partem para a Estrada

Rebaixamento, Investimento Recorde, Ascensão Feminina e Futuro Incerto: entenda o caldeirão WorldTour, que larga nesta sexta-feira, 17/1, na Austrália

16 de janeiro de 2025

A temporada World Tour 2025 começa, como de costume, na Austrália. Chega com investimento recorde, rivalidades aguçadas e muita expectativa quanto ao crescimento feminino. O ranking WT é a primeira prateleira do ciclismo mundial. As principais e mais tradicionais provas, como o Tour de France. As equipes com maior estrutura (juntos, o orçamento dos times masculino e feminino somam cerca €640 milhões – aproximadamente R$4 bilhões).É nesse pelotão que está a vanguarda das bicicletas e componentes. E, claro, os ciclistas mais bem pagos do mundo.

Tudo isso reunido – com muito custo político – sob o guarda-chuva da UCI (União Ciclística Internacional). Um equilíbrio frágil sob a constante sombra de uma possível criação de uma Liga, que viraria o cenário de cabeça para baixo com investimentos milionários de um fundo árabe.

Esportivamente, os galácticos embates nas clássicas e nas grandes voltas seguem marcando uma Era. Além disso, 2025 é o ano de fechamento de um novo ciclo de três anos, aumentando a pressão para as equipes que lutam contra o rebaixamento.

Confira aqui o calendário feminino completo
Confira aqui o calendário masculino completo

O SONHO DA GLOBALIZAÇÃO

Como o próprio nome diz, o World Tour nasceu de um sonho de um ciclismo mais global. Os mais puristas ainda afirmam que a temporada começa em março. E por mais que a Europa seja, realmente, o epicentro da modalidade, a caravana larga na Oceania e só terminará em outubro, na China. Isso depois de passar pelo Oriente Médio, Europa e América do Norte.

O calendário deste ano é quase idêntico aos anteriores. As novidades são uma clássica dinamarquesa, a Copenhagen Sprint (masculino e feminino) e, principalmente, o esperado retorno da Monumento Italiana Milão-São Remo para mulheres.

O World Tour é dividido em provas por etapas e de um dia, como a Paris-Roubaix(Foto: A.S.O./Pauline Ballet)

Serão ao todo 165 dias de competição para os homens e 79 para as mulheres. Elas largam na frente, nesta sexta-feira, 17/1, com a disputa do Santos Tour Down Under. Entretanto, um evento de apenas três dias. Dois a menos do que os homens vão encarar na próxima semana, em um evento de mesmo nome e relevância.

Nesse sentido, duas coisas são indiscutíveis: os homens ainda são o principal centro das atenções e as mulheres estão reduzindo – mesmo que lentamente – essa distância e ganhando cada vez mais notoriedade. O calendário masculino conta mais dias e mais eventos, tanto em provas de um dia, quanto por etapas: 36 (exclusivamente no World Tour). O feminino tem apenas 28 corridas.

BRASIL ENTRE OS MELHORES

A primeira divisão é formada por 18 equipes masculinas e 15 femininas. O time deles pode ter até 30 ciclistas. No caso delas, são 20 nomes. Ao todo, ciclistas de 39 países estão no WT, enquanto no feminino essa mistura inclui 20 nações. Uma delas é o Brasil, que tem Tota Magalhães estreando na equipe espanhola Movistar. A primeira prova da brasileira deve ser na Espanha, ainda no final de janeiro. Os franceses continuam maioria no pelotão com 81 atletas. No feminino, o domínio é neerlandês, com 60 competidoras nascidas nos Países Baixos.

Tota Magalhães movistar worldtour

Tota Magalhães mantém o Brasil representado na Primeira Divisão

AS CIFRAS DO PELOTÃO

Fazer parte do WorldTour garante às esquadras presença nas principais provas. Lembrando que há também outras duas divisões profissionais: ProSeries e Continental. Manter essa estrutura custa muito caro e o dinheiro investido em cada equipe aumentou muito (em todas os três níveis).

De 2022 para cá, esse crescimento foi de 33% entre os homens e o dobro entre as mulheres. Ronny Lauke, diretor da Canyon/Sram, afirmou recentemente que o orçamento da equipe dele aumentou 10x desde 2016. As principais formações masculinas, como a UAE-Emirates e a Visma Lease Bike trabalham com mais de €50 milhões/ano, enquanto a média gira em torno de €32 milhões. Toda essa “inflação” tem aumentado a distância entre os times mais ricos e os das divisões de acesso, que lutam para se manterem competitivos.

Demi Vollering (esq), Kasia Niewiadoma e Pauliena Rooijakers no pódio do TdF Femmes 2024 (A.S.O./Thomas Maheux)

Boa parte deste montante financeiro, no entanto, serve para pagar os salários dos ciclistas. Curioso é que eles podem ser contratados ou prestadores de serviço. Tipo CLT ou PJ. A UCI estabelece um salário mínimo, mas cada equipe é regulada pelas regras trabalhistas do país onde está vinculada sua licença. Isso faz com que alguns times busquem sede em paraísos fiscais. A UAE, equipe campeã do ranking WT ano passado, por exemplo, é um time dos Emirados baseado na Suíça. Enquanto isso, os franceses da FDJ, recebem patrocínio de uma empresa pública francesa e recolhem 30% do salário com impostos locais.

Enquanto a média salarial masculina é de €500 mil/ano, o ordenado médio entre as mulheres é de  €85 mil/ano. Os mais bem pagos, todavia, vão muito além. O esloveno Tadej Pogacar receberá neste ano de 2025  €8 milhões da UAE, enquanto Demi Vollering tem um novo contrato anual com a FDJ estimado em € 900 mil (não se sabe aqui se os 30% do fisco francês estão nessa conta).

CLÍMAX EM JULHO

Campeões mundiais e do ranking UCI WT e WWT, o esloveno Tadej Pogacar e a belga Lotte Kopecky são as principais estrelas de uma geração que empolga pelos grandes feitos e proezas cada vez mais incríveis. A temporada 2024 de Pogacar, com 25 vitórias (24 delas no nível WT) só encontra referência nos anos do belga Eddy Merckx, considerado o maior ciclista – por enquanto – de todos os tempos. Pogacar já divulgou seu calendário para este ano e o Tour de France continua sendo o principal objetivo. Sua rivalidade com o dinamarquês Jonas Vingegaard nas últimas quatro edições gera grande expectativa. Com 21 etapas e quase R$15 milhões em prêmios, o Tour é o auge da temporada.

Vingegaard e Pogacar em um esperada revanche em 2025 (Foto: A.S.O./Billy Ceusters)

Sua versão feminina, reformulada há 3 anos, com 9 etapas, também já assumiu o protagonismo no planejamento das equipes do WWT e concentra grande parte da expectativa dos patrocinadores.

NOVO TRIÊNIO

Pela segunda vez, o circuito World Tour vai aplicar o sistema de rebaixamento e ascensão. No início, as equipes eram escolhidas apenas por critérios econômicos. Mas desde 2020, o ranking contabiliza os pontos das equipes WT e ProTeam ao longo de três temporadas. As 18 melhores em pontuação recebem o selo da primeira divisão e a vaga compulsória para todos os eventos da série nos próximos anos. Neste caso, 2026, 27 e 28. Astana, Cofidis, Arkea e DSM são as equipes mais preocupadas com os pontos e a possibilidade de serem rebaixadas.

Além disso, as 2 melhores equipes ProTeam de cada temporada no ano seguinte recebem convite automático para todas as provas de nível WT, enquanto a terceira melhor é automaticamente convidada para as provas de 1 dia de nível WT. Os times que caíram no último ciclo, Israel e Lotto devem retornar ao primeiro grupo, muito em função dessa regra. A UNO-X corre por fora.

Equipes ProTeam, como a UNO-X de Jonas Abrahansem (jersey de bolinhas) animam as provas em busca de exposição (A.S.O./Billy Ceusters)

MOUNTAIN BIKERS NO ASFALTO

O Tour de France Femmes ajuda a explicar uma movimentação que se acentuou nesta temporada. A vinda de nomes importantes do MTB ao cenário de Estrada. Caso dos campeões olímpicos em Paris 2024, Tom Pidcock e Pauline Ferrand-Prévot. Assinada com a Visma Lease a Bike pelos próximos três anos, Ferrand-Prévot volta ao esporte onde foi campeã mundial em 2014 instigada em tentar uma vitória na prova francesa. Em declaração recente, ela diz que esse será um processo gradual e antes da sua estreia no Tour, ela aposta suas fichas em uma vitória na clássica Strade Bianche, em março. No caso de Pidcock, por mais que ele tenha assinado com a Q36.5, um ‘ProTeam‘ (2a divisão), o britânico promete se dedicar integralmente ao grandes eventos dos “pneus finos” neste ano.

Inicialmente correndo nas duas pistas estão os atuais campeões mundial de MTB: Alan Haterly (Jayco-Alula) e Puck Pieterse (Fênix-Deceuninck). Os dois também buscam espaço na Estrada junto com Mona Mitterwalner (Human Powered Health) e Laura Stigger (SDWorx), que também conciliarão tanto a estrada quanto o MTB. Quem também deve correr no asfalto e na lama é o neerlandês Mathieu Van der Poel, que sonha com um título mundial no MTB para completar sua estante, onde já estão, principalmente, as conquistas do Ciclocross, Estrada e Gravel.

Campeão mundial de MTB, sul-africano Alan Haterly vai conciliar modalidades correndo pela Jayco-Alula

COMO ASSISTIR

Grande parte do calendário do ciclismo WT será transmitido com comentários em português pelos canais ESPN. Incluindo o Tour Down Under (apenas o masculino, infelizmente). Além disso, outros eventos, como o Giro d’Italia, chegam ao Brasil pelo DSports, canal que faz parte da grade Sky+. O Challenge de Mallorca será o primeiro evento deste canal, no final do mês. 

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Leandro Bittar

Leandro Bittar é jornalista e coordena o time de Comunicação da Aliança Bike

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