Ruanda entrega um Mundial inesquecível
O Campeonato Mundial de Ciclismo de Estrada em Ruanda terminou neste domingo com uma bela vitória do esloveno Tadej Pogacar, bicampeão mundial após um dos ataques solitários mais longos de todos os tempos. Com o sucesso do maior ciclista da atualidade, o país africano pode comemorar a entrega de um evento bem-sucedido, marcado pela dureza do percurso, o mais duro dos anos 2000, pelas belas imagens do país das “mil colinas” e pelo calor da população que abraça o ciclismo.
Ruanda como palco histórico
A realização do Mundial em solo africano foi comemorada como um feito simbólico, reforçando a globalização do ciclismo e abrindo portas para novas culturas e talentos. O público ruandês compareceu em peso, proporcionando uma atmosfera vibrante. Uma composição de fatores que rendeu pelas disputas e, sobretudo, belas imagens do campeonato. Ao mesmo tempo, contudo, nenhum dos problemas especulados em função do conflito na fronteira com o Congo foi notado.

O Mur de Kigali só foi usado na prova masculina e comprovou toda expectativa reunindo uma multidão (Alex Whitehead/SWpix.com/UCI)
Elite masculina monopólio de Remco e Pogacar
O esloveno Tadej Pogacar confirmou o favoritismo e conquistou a segunda camisa arco-íris consecutiva, estendendo assim sua sequência de grandes feitos recentes. É, simplesmente, a primeira vez em quase 100 anos de Mundial que um ciclista vence o Tour e o Mundial no mesmo ano por duas vezes seguidas. A distância entre Pogacar e Eddy Merckx, tido como o maior de todos os tempos, está uma linha cada vez mais tênue.
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Atacando a 104 km da chegada, Pogacar completou os últimos 66 km sozinho, cruzando a meta com o tempo de 6h21min20s. O belga Remco Evenepoel ficou com a prata, a 1min28s, e Ben Healy, da Irlanda, levou o bronze, a 2min16s. Apenas 30 dos 165 ciclistas conseguiram completar uma das provas mais duras já registradas no Mundial.
Esta foi apenas a primeira vez em 30 anos que a altimetria acumulada da prova ultrapassou os 5.000m. E olha que eles correram a 1.650m do nível do mar.
Vice-campeão, Remco Evenepoel foi protagonista da disputa pelos problemas mecânicos e pela longa recuperação na tentativa de alcançar Pogacar e repetir a dobradinha que conquistou nos JO de Paris em 2024. Remco, uma semana atrás, se tornou tricampeão consecutivo na modalidade contrarrelógio. Ele não escondeu a frustração por não ter conseguido rivalizar, de fato, com o esloveno na prova em linha.

Remco perde a cabeça em um dos problemas que teve na prova de resistência.
Favoritas vacilam e canadense rouba a cena
Na Elite feminina, a canadense Magdeleine Vallieres surpreendeu as favoritas e conquistou o título mundial. Em uma disputa eletrizante, onde várias seleções jogaram suas cartas, o pódio contou com a neozelandesa Niamh Fisher-Black e a espanhola Mavi Garcia. Diferente dos homens, os grandes nomes, como a neerlandesa Demi Vollering e a francesa Pauline Ferrand-Prévot, não tomaram a rédea da disputa e quando notaram, não era mais possível alcançar as escapadas. Um final frustrante, que rendeu trocas de farpas entre elas através dos depoimentos aos jornalistas.

Vallieres é recebida pela eloquente compatriota Alisson Jackson após vencer pela segunda vez na carreira. (Alex Whitehead/SWpix.com/UCI)
Jovens talentos e marcas inéditas
O italiano Lorenzo Finn conquistou o título da Sub-23 após uma atuação marcante no mesmo circuito desafiador, tornando-se o mais jovem campeão da categoria. Isso, depois de ter vencido o Mundial Júnior no ano passado. Nascido em dezembro de 2006, ele é apenas oito meses mais velho que o britânico Harry Hudson, que venceu a prova Júnior, o primeiro do Reino Unido a alcançar a façanha na categoria desde 1975.
Entre as mulheres, Célia Gery, que já compete pela equipe FDJ, venceu na sub-23 em um belo trabalho da seleção francesa. Na Júnior, outra vitória de uma ciclista WorldTour, Paula Ostiz, de apenas 18 anos, que chegou como trainee na Movistar esse ano e será companheira de Tota Magalhães pelas próximas três temporadas.
Brasil no Mundial
O Brasil esteve representado por Henrique Avancini na Elite masculina, que resistiu até a 11ª volta antes de abandonar. Uma demonstração da dificuldade extrema do percurso em Kigali. Na Sub-23, Henrique Bravo terminou em 32º e Dimas Mota concluiu em 57º na Júnior. Única mulher, Maitê Coelho fechou sua participação na Júnior com a 44ª colocação.

Dimas Mota durante a prova Júnior, brasileiro é uma promessa do esporte (Chris Auld/SWpix.com/UCI)
Da África para a América
Ruanda deixou sua marca como anfitriã do Mundial de Ciclismo, celebrando o primeiro campeonato da modalidade na África. Um movimento certeiro da UCI, ajudando a descentralizar um esporte predominantemente europeu. E no próximo ano, contudo, não será diferente, a disputa pela camisa arco-íris será em Montreal, no Canadá.
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