ELEIÇÃO PRESIDÊNCIA CBC: OS CANDIDATOS
No próximo sábado, 8 de março, a Confederação Brasileira de Ciclismo conhecerá seu presidente pelos próximos quatro anos. A eleição definirá o sucessor de José Luiz Vasconcellos, que ocupa o cargo oficialmente desde 2005.
Três chapas se inscreveram para a disputa e a Aliança Bike traz o perfil e as principais propostas dos postulantes à presidência: Jamil Suaiden, Marcelo Leão e Marcos Mazzaron.
FORMATO DE DISPUTA
Antes de apresentar os candidatos, é importante passar pela forma de disputa. Todas as 27 Federações Estaduais têm direito a voto (com peso 3); os 15 ciclistas da Comissão de Atletas também (com peso 3) e 11 entidades/clubes nacionais participarão da eleição (com peso 1). Ao todo, serão 137 pontos em disputa (81 + 45 + 11).
Nossos entrevistados são os líderes das chapas que incluem também os futuros vice-presidentes. A Assembleia Geral Eletiva inclui (com votação presencial ou online) a eleição dos novos Conselhos Fiscal e Administrativo para o mesmo quadriênio: 2025-2028.
BASTIDORES
Quando essa reportagem é publicada, os chapas “JUNTOS SOMOS MAIS”, encabeçada por Marcelo Leão, e “RENOVAÇÃO CICLISMO BR”, de Marcos Mazzaron, respondem aos pedidos de impugnação propostos pela chapa de situação, de Jamil Suaiden, junto à Comissão Eleitoral.
A decisão da Aliança Bike é manter as apresentações. Cientes de que esse arranjo pode sofrer alterações até a hora da eleição no sábado.
Todos os documentos oficiais referentes ao pleito aqui.
PERFIL DOS CANDIDATOS
- Jamil Suaiden, 52 anos, é o candidato de situação. Ex-ciclista, representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1996. Ele é empresário em Brasília, onde desenvolve projeto, entre outros, na área hoteleira e de eventos.
- Marcos Mazzaron, 61 anos, também foi atleta olímpico (Los Angeles 84 e Seul 88). Foi presidente da Federação Paulista e concorreu ao cargo de Presidente da CBC anteriormente em oposição ao José Luiz Vasconcellos. Atualmente, tem uma fábrica de bicicletas e uma empresa de eventos esportivos.
- Marcelo Leão, 60 anos, é atualmente vice-presidente da CBC. Apesar disso, forma sua chapa como oposição. Foi o primeiro nome oficialmente candidato. Ex-ciclista, ele reside em Tocantins, onde foi presidente-fundador da Federação local. É empresário do setor de bicicletas, da construção civil e pecuarista.
FORMATO DA ENTREVISTA
Todos os três candidatos foram entrevistados seguindo um mesmo roteiro de perguntas. A ideia é trazer o máximo de isonomia para a apresentação das propostas de cada um. Por estar em viagem, a gravação com o candidato Jamil Suaiden está um pouco menos formal e com falhas de internet, mas nossa intenção foi privilegiar o conteúdo.
As entrevistas também estarão disponíveis no formato podcast. Clique aqui para ouvir!
CANDIDATO MARCELO LEÃO
MOTIVAÇÃO AO CARGO
LEÃO: Minha motivação maior foi tornar o ciclismo brasileiro mais forte, mais profissional. Pensei muito para chegar nesse ponto aqui, ser candidato à presidência da Confederação Brasileira de Ciclismo. Eu fiz uma carreira sólida. Comecei como atleta, fundei um Clube de ciclismo, fui dirigente, fundei a Federação (Tocantinense) e agora sou vice-presidente da CBC. Então eu me preparei para poder falar que eu sou candidato à presidência da Confederação.
SEDE DA CBC
LEÃO: O Estatuto não diz que a sede precisa ser onde reside o presidente. O nosso intuito é levar a Confederação Brasileira de Ciclismo para São Paulo, onde hoje é o maior centro estratégico, onde estão as outras confederações esportivas e grandes empresas. Queremos uma subsede no Rio de Janeiro, onde temos um legado olímpico, e outra sede no Nordeste, em Fortaleza, onde também temos o legado olímpico. Não dá para arrancar a sede de Londrina de uma vez. Mas, ao contrário do que todos pensam, nós temos pessoas capacitadas, que trabalham na CBC, que estão em várias partes do Brasil.
RECURSOS FINANCEIROS
LEÃO: A CBC já teve patrocínio do Banco do Brasil. E perdeu esse patrocínio. Depois, consequentemente, conseguimos o patrocínio da Caixa Econômica Federal, que perdemos também. A presidência da CBC alega que foi por denúncia de presidentes de federação. Mas não. A gente sabe. Eu acho que hoje, realmente, com esse orçamento atual, se nós tornássemos esse capital transparente e pudéssemos trabalhar certinho com ele, com certeza, a gente poderia alavancar a CBC, ainda economizando dinheiro. O ciclismo precisa ser mais atrativo para patrocinadores.
VICE-PRESIDÊNCIA
LEÃO: Eu nunca tive acesso a nenhuma informação, eu nunca consegui entrar na sala da presidência para sentar e poder ter acesso a alguma informação. Então, tudo que nós ficamos sabendo é igual vocês ficam sabendo. Quando sai uma convocação de um atleta, eu fico sabendo também junto com vocês.
ALTO RENDIMENTO
LEÃO: Nós temos que ter um corpo fixo ali para poder treinar uma seleção permanente, mas para isso nós temos que ter um local para poder ter essa pessoa fixa. Um centro de treinamento. Hoje nós não temos, então a CBC hoje paga um técnico, aleatoriamente, porque nós não temos uma seleção permanente, mas o salário dessa pessoa é permanente e é mensal.
INTERCÂMBIO
LEÃO: O que falta é uma estrutura por trás aqui para poder manter os ciclistas mais tempo no Brasil. Para que não sofram tanto lá e não voltem igual estão voltando. Nós já tivemos grandes nomes como Renan Ferraro, Cassio Paiva e muitos outros que foram e se deram bem. Mas não saíram tão novos daqui. Fortalecer mais essa base nossa, para que eles fiquem mais no Brasil e consigam pegar mais bagagem para poder ir para fora, com certeza você vai trazer mais resultado para nós e para eles.
EVENTOS
LEÃO: Hoje não tem transparência no calendário, tenho certeza de que você não sabe onde vai ser o Campeonato Brasileiro desse ano. Nem local você tem, de elite, de base, ou onde vai ser o Brasileiro de Master. Nós estamos em março, entendeu? Então a ideia nossa é soltar um calendário com antecedência, no mínimo dois anos.
DESEJO DE MUDANÇA
LEÃO: Se não for eu, pode ser outro, mas a CBC tem que mudar. É uma crítica construtiva. A CBC, essa CBC de hoje, que tá aí, não consegue patrocinador. É óbvio, porque como é que eu consigo um patrocinador, eu, patrocinar um campeonato brasileiro, uma marca de bicicleta. E a CBC, há nove anos que já perdeu o último patrocínio, da Caixa Econômica, não conseguiu alinhar nem um patrocínio, nem uma marca. É realmente constrangedor para o ciclismo brasileiro.
VISÃO DE FUTURO
LEÃO: Eu quero fazer nestes quatro anos, o que você espera que seja em dez. Então, eu vou transformar esse nosso ciclismo. Certamente, não farei sozinho. Vão trabalhar comigo, a Comissão de Atletas, as federações, os atletas. Isso vai atrair patrocinadores, e a gente vai alavancar o ciclismo brasileiro imediatamente. Nós vamos em busca dessa medalha, dessa primeira medalha. A Confederação Brasileira de Ciclismo, hoje, é uma das poucas entidades que não tem uma medalha olímpica. Isso afeta diretamente o repasse que o COB. Então, nós temos que crescer lá dentro, temos que crescer em medalhas, para poder alavancar e receber mais recursos, para que a gente consiga atingir o objetivo, não só meu, como o seu, mas como do Brasil inteiro.
CANDIDATO MARCOS MAZZARON
MOTIVAÇÃO AO CARGO
MAZZARON: E eu já tinha pendurado a chuteira, não queria mais participar, mas teve, pelo menos, eu te diria, uns 10 amigos de estados diferentes que me ligaram e disseram: “olha, é a sua hora, você precisa estar, porque o ciclismo brasileiro precisa de você”. Isso mexeu um pouco comigo. É verdade. Mexe um pouco, não com o seu ego, mas mexe com aquela parte mais sensível de quando eu fui atleta. E eu sei a dificuldade que tive para chegar a disputar campeonatos do mundo, Olimpíadas. E eu realmente acho que tenho algo a contribuir para o ciclismo e para modernizar o ciclismo. Eu gosto da política, eu trabalho com muitas pessoas que estão diretamente ligadas à política. Nós temos sempre projetos que envolvem governos, municipal, estadual e federal. Então, isso é importante, o segmento tem que ter essa relação política e é preciso.
SEDE DA CBC
MAZZARON: Será em São Paulo. Não tem dúvida nenhuma. No meu plano de gestão nós teremos subsedes em todas as regiões do país. Não dá para você ter uma gestão localizada só em São Paulo ou em qualquer cidade do país, quando você tem um território tão grande como é o brasileiro. E, por exemplo, se você pegar lá a extremidade que é o Acre, Roraima, os campeonatos e os eventos de base não se realizam, pois as próprias Federações acabam ficando órfãs nesses locais mais distantes. Acabam não sendo visitadas pela Confederação.
RECURSOS FINANCEIROS
MAZZARON: O modelo atual não atende. O dinheiro do COB é um dinheiro muito carimbado. Ele vem para o alto rendimento. Mas só esse dinheiro realmente não é possível administrar a Confederação e ter uma gestão eficiente. Então você tem que ter outros recursos: público e privado. Tem que trabalhar com equipe competente para buscar esses numerários. Por exemplo, eu já vi falar, olha, vai voltar o patrocinador que é do governo, banco do governo. Eu não acredito que isso aconteça. Primeiro porque o próprio futebol já não tem mais esses patrocínios. E eu não vejo o ciclismo hoje, na condição que se encontra, pronto para receber um patrocinador. Ele tem que ser trabalhado, tem que ser reorganizado, ter todo um planejamento estratégico para poder sentar-se à mesa e apresentar ao Governo Federal, ao COB e aos patrocinadores.
INTERCÂMBIO
MAZZARON: Eu tenho certeza de que a Argentina já começa bem com a gente numa parceria. E nós teremos, com certeza, um centro de treinamento, uma base na Europa, porque tem lá o centro da Suíça, que já é da UCI, e você pode ter atletas lá. Mas eu tive uma experiência como atleta, eu fiquei na Bélgica, num local que a própria confederação, à época do Bruno Caló e depois do José Jorge Breve. Para nós foi muito positivo. Então, hoje, eu penso na Itália. Replicar lá o que fizemos na Bélgica. É lógico, tem que ter uma parceria para isso, tem que ter patrocinador para isso, mas, com certeza, a gente vai buscar isso para o atleta ter essa condição. E buscar tudo que a gente pode, hoje, de intercâmbio e campeonatos intercontinental.
VISÃO DE FUTURO
MAZZARON: Eu acho que nesses primeiros quatro anos, com certeza, é um momento só de estudo, é um momento só de focar na base, focar naquilo que a gente precisa para aí, sim, de 8 a 12 anos, a gente ter a nossa medalha. E é claro que, em um período de quatro anos, é pouco, eu não acredito nesse resultado, só se for alguma coisa assim, algum fenômeno. Mas, para oito anos, já tem uma base mais estruturada, e aí, a partir de 12 anos, aquela base que você preparou ali, você já começa a colher.
CANDIDATO JAMIL SUAIDEN
MOTIVAÇÃO AO CARGO
JAMIL: “Foi um processo longe. De amadurecimento até que eu quisesse entrar no pleito. Apoio dos amigos, da família. E ter o apoio do Vasconcellos foi fundamental também, pela importância que ele significa hoje dentro do ciclismo. Uma pessoa experiente, que tem uma vida dedicada ao ciclismo. O seu Bruno sempre dizia que não queria entregar a confederação na mão de pessoas que pudessem não levar o ciclismo em frente. Não tivesse um compromisso ou que fizessem disso uma dependência financeira. Eu não preciso do ciclismo, da Confederação para me sustentar, graças a Deus, estou em uma situação mais favorável hoje.
SEDE DA CBC
JAMIL: Aqui em Brasília. Hoje existe até uma situação bem mais favorável que o resto do país em Brasília. As confederações que têm sede aqui têm acesso a um fundo específico para fazer eventos e para trazer eventos para Brasília. Isso é muito importante para qualquer modalidade. Mas é importante ressaltar que tem alguns candidatos que falam que vão mandar embora as pessoas, né? Ah, vou tirar de Londrina, vou mandar não sei quantos funcionários embora. Isso não pode ser de uma forma assim bruta, né? Qualquer empresário sabe o custo que é ações trabalhistas e demitir as pessoas, né? Ou seja, se você demitir os funcionários que tem hoje na CBC e tirar todo mundo, é mais de um milhão e meio que você vai pagar de folha. Então, a gente tem uma transição tranquila, uma transição sem muita pressa.
RECURSOS FINANCEIROS
JAMIL: O dinheiro hoje da confederação, a gente chama de carimbado, né? Você recebe já condicionado. Esse valor que o COB passa hoje para cinco modalidades [olímpicas] é muito pequeno. Eu acho que a CBC terá – e a gente já está buscando – um patrocinador oficial do ciclismo brasileiro. Essa é a minha busca. Independente se for público ou privado, a gente está buscando. Isso nos dará um pontapé inicial.
AUMENTAR A BASE
JAMIL: O principal fator hoje é a falta de provas. Em qualquer esporte… O próprio presidente La Porta [Marco La Porta, do COB] convenceu esses dias um amigo nosso aqui que o maior problema hoje do esporte é o surgimento de novos atletas. Não estão surgindo novos atletas. Esportistas que vão às 5 Olimpíadas? Não é falta de competência do atleta que vai para as cinco olimpíadas, mas é falta de novos nomes também, né? Precisamos aumentar a base. Porém, como sem corridas? O que você vai fazer para uma criança começar a competir? Ela está vendo o quê? Nada. Ela não assiste competição. Tem que ter provas. É a primeira fase para criar ídolos. E quando cria ídolos, você cria atletas que querem ser iguais àquele.
JOGO LIMPO
JAMIL: É um tema complicado. Eu acredito que a educação é essencial. Orientar o ciclista. Uma disciplina nutricional e bons orientadores nessa área. Talvez a gente consiga dar maior auxílio aos ciclistas. Às vezes, ele nem percebe que está passando uma pomada, que pode acontecer isso. Na nossa proposta está cursos e orientações aos atletas sobre essa parte tão complicada que é o doping.
VISÃO DE FUTURO
JAMIL: Eu nunca esqueci uma entrevista nos meus tempos de Caloi. A conversa foi assim: ‘Como foi ganhar a 9 de Julho?’ Não foi tão difícil assim. 99% foi a equipe que fez. Eu fiz 1% apenas, que foi sprintar 200 metros. Eles me levaram até lá. Na CBC é a mesma coisa. Se a gente tiver uma parceria e todos ajudarem, as federações estarem envolvidas, os atletas estarem envolvidos, a gente vai conseguir fazer um ciclismo melhor. Ninguém faz nada sozinho.
VASCONCELLOS
JAMIL: O Vasconcelos está aí, críticas e elogios, enfim, né? Sempre terão os dois lados, independente do time que você está jogando. Mas é uma pessoa que conseguiu manter de pé a confederação até hoje. Ou seja, se a CBC estivesse toda perdida, com certidões, não teria nem o que fazer. Seria impossível você entrar num jogo desse. Agora é pegar o legado e jogar pra cima. Sem ficar falando mal de ninguém, sem ficar inventando desculpas, eu acho que é trabalhar, levar pra cima e correr atrás de grandes parceiros. Mostrar o que o ciclismo pode dar.
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