Entrevista com Maria Eugenia Lopez, CEO da Volta Bikes
Em participação no podcast da Aliança, a executiva conta como estão os preparativos para a chegada da marca argentina de bicicletas ao Brasil no próximo ano.
Aliança – Conte-nos um pouco da história do grupo LH, detentor da marca Volta Bikes
Maria Eugenia Lopez – É um grupo formado por cinco irmãos e está estabelecido ao norte da Argentina, na região do Chaco. Estamos há 30 anos no mercado e produzimos bicicletas urbanas e profissionais, peças de reposição para motos e motos elétricas. Nosso objetivo atualmente é ampliar nossas fronteiras, começamos com o Paraguai e estamos chegando ao Brasil, para onde levaremos nossa linha de bicicletas profissionais.
Aliança – As bicicletas são produzidas ou montadas na Argentina?
Maria Eugenia Lopez– Basicamente todos os insumos são importados e realizamos a montagem em nossa fábrica, no Chaco. Porém todos os desenhos dos quadros são feitos por nós e fabricados na China.
Aliança – Qual é a estratégia do grupo?
Maria Eugenia Lopez – A estratégia de expandir a empresa para outros países nasce da necessidade de diversificar os negócios, uma vez que a Argentina, por várias razões, tem uma estrutura econômica que não nos permite avanços na cadeia produtiva, como fabricar nossos quadros. Queremos ir para outros países que nos proporcionem outras possibilidades e vantagens. Vimos no Brasil essa oportunidade por ser um mercado grande e estável.
Aliança – As montagens serão feitas no Brasil? Como vai funcionar?
Maria Eugenia Lopez – Nosso primeiro objetivo no país, é chegar com nossos quadros para serem montados aí. Vamos iniciar a primeira etapa apenas com os modelos profissionais. Vamos apresentar nossas bicicletas aos brasileiros durante o Shimano Fest. Acreditamos que nossos produtos terão muito boa aceitação no mercado, pois acreditamos muito na nossa especialidade em desenhar quadros profissionais, assim como no desenvolvimento de acessórios e roupas para ciclistas.
Aliança – O mercado brasileiro produz em média 4 milhões de bicicletas montadas por ano. Desse total, 70% têm um preço que vai de R$ 700 a R$ 2.500/3.000 e 5% custam acima de R$ 5 mil. A ideia do grupo é entrar nesse nicho premium?
Maria Eugenia Lopez – Os preços das nossas bicicletas da linha profissional variam de R$ 2 mil a R$ 5 mil. Temos alguns modelos que ficam um pouco acima deste valor.
Aliança – As políticas atuais do Mercosul trazem algum tipo de benefício para vocês exportarem para o Brasil?
Maria Eugenia Lopez – Não, nenhum! A nossa operação com o Brasil está baseada em uma relação direta entre a China e o Brasil. Nossa filial argentina só vai proporcionar os desenhos e a experiência. Para o movimento das mercadorias, não existe nenhum benefício porque os custos logísticos e as complicações financeiras, tanto da Argentina, quanto do Brasil, fazem com que não haja benefício. O caminho direto faz mais sentido.
Aliança – Por que a empresa decidiu vir para o Brasil neste momento?
Maria Eugenia Lopez – A experiência nos ensinou que deveríamos diversificar o setor de atuação e também os países onde estamos presentes, pois isso nos proporciona, enquanto grupo econômico, menos riscos e também a possibilidade de crescer ou, pelo menos, assegurar um crescimento ao grupo. A Argentina está passando por um momento econômico muito difícil porque nossa inflação é alta, há muitas restrições para o comércio exterior e o setor de bicicletas depende bastante disso. Então, há pouco mais de quatro anos, tomamos a decisão de internacionalizar, porém a pandemia acabou atrasando alguns anos os trâmites. No ano passado, começamos pelo Paraguai, porém estamos estudando o Brasil há dois anos e, agora, chegou o momento de concretizar esses planos.
Aliança – Como serão as vendas? Há planos de ter lojas próprias ou e-commerce?
Maria Eugênia Lopez – Vamos começar com vendas B2B e as lojas diretamente ao consumidor final. O canal e-commerce também será contemplado, mas com a mesma estratégia que temos na Argentina, que é sempre por meio dos canais de cada loja.
Aliança – Nos mercados do Paraguai e Argentina como são as vendas, lojas próprias ou multimarcas?
Maria Eugenia Lopez – Sempre lojas multimarcas. Na Argentina, o modelo de loja exclusiva não funciona, ao menos nos últimos 20 anos. Atualmente, temos uma marca internacional testando uma loja exclusiva. Estamos enfrentando muitos problemas de abastecimento nos últimos quatro ou cinco anos e isso afeta muito mais as lojas exclusivas. Por isso, penso que essa tendência de lojas multimarcas ainda deve durar alguns anos na Argentina.
Aliança – Como a pandemia afetou o mercado de bicicletas argentino?
Maria Eugenia Lopez – Em resumo eu posso afirmar que os efeitos da pandemia e pós pandemia no mercado argentino foram exatamente iguais aos do Brasil. A diferença é que por lá os efeitos chegaram três ou quatro meses depois.
Aliança – No Brasil qual volume de vendas ou produção vocês esperam para 2024?
Maria Eugenia Lopez – Ainda estamos negociando onde construir a nossa planta, mas queremos começar a vender já em 2024, que será um ano piloto. A ideia é produzir inicialmente entre 5 mil e 10 mil bicicletas e, uma vez que a nossa fábrica esteja instalada, subir cerca de 20% a 25% já em 2025. Em quatro anos, nossa meta é duplicar nossa produção.
Aliança – Na Argentina vocês organizam competições e eventos, qual a importância dessas ações na estratégia de marketing da empresa?
Maria Eugênia Lopez – Essas ações são muito importantes para este segmento profissional, ou seja, para o consumidor que pedala de forma regular e compete. Na Argentina, assim como no Brasil, este tipo de evento está ganhando cada vez mais relevância. As marcas querem estar cada vez mais presentes e acompanhar os ciclistas nesse tipo de evento. Nós estamos incrementando cada vez mais a nossa incursão nesse tipo de evento na Argentina e assim será também no Brasil. Entendemos nossos clientes como pessoas que elegem um modo de vida, que compreende a participação nesses eventos aos finais de semana. Nossa marca quer estar sempre acompanhando nossa comunidade. Seguramente seremos vistos por aí.
Aliança – Além das bicicletas, a marca também irá trazer roupas e acessórios para o Brasil?
Maria Eugênia Lopez – Sim, o projeto contempla a produção de bicicletas e comercialização dos principais acessórios. Atualmente temos roupas, sapatilhas e acessórios para bicicletas. Vamos chegar com a mesma gama de produtos. E vamos ouvir o consumidor brasileiro e ir adaptando às necessidades que vamos descobrindo.
Aliança – Me parece que o projeto de chegar ao Brasil está muito bem estruturado. Como ciclista e membro da Aliança Bike, dou as boas vindas, desejo sucesso e conte conosco para apoiar a implementação.
Maria Eugênia Lopez – Muito obrigada! Fico muito feliz com as suas palavras. Estamos recebendo muito apoio dos brasileiros, dos lojistas, das autoridades, dos ciclistas e também de outros colegas. Estamos muito contentes porque sentimos que podemos trabalhar em conjunto, de forma cooperativa. Sabemos que vamos competir em alguns produtos, mas já sentimos que essa competição no Brasil é muito saudável e todos tratamos de chegar ao consumidor da melhor maneira. Estamos juntos como colegas lutando para que cada vez tenha mais ciclistas e que usem mais bicicletas do que carros. É para isso que temos que olhar. Não é uma luta entre nós, mas para que cada vez mais pessoas se movam em bicicleta, pratiquem mais esporte. É esse o principal objetivo da nossa empresa.
Ouça o episódio do Podcast da Aliança Bike com a CEO Maria Eugênia