Camisa de Bolinhas completa 50 anos
Poucos elementos do esporte carregam tanto simbolismo quanto a lendária camisa branca com bolinhas vermelhas do Tour de France. É algo que só faz sentido para quem acompanha o esporte. Em 2025, esse ícone do ciclismo mundial completa 50 anos e continua encantando fãs por seu estilo único e, principalmente, por tudo o que representa: a glória de ser o Rei da Montanha na prova de bicicleta mais importante do mundo.
Muito além do visual excêntrico
Conhecida como maillot à pois rouges, a camisa é entregue ao ciclista que lidera a classificação de montanha do Tour — uma disputa paralela à luta pela famosa camisa amarela. Para conquistá-la, não basta cruzar a linha de chegada primeiro: é preciso ser o mais rápido a alcançar o topo das subidas, somando pontos ao longo dos trechos mais íngremes da prova. Quanto mais difícil a montanha, maior a pontuação. São cinco categorias classificadas de forma regressiva: 4, 3, 2, 1 e Hors Catégorie, definição para as montanhas míticas.
Importante notar que as montanhas fazem parte da rota do Tour de France desde 1910. E desde 1933 já existia uma classificação que contemplava apenas as disputas nas escaladas. Algo secundário ao título geral, ou seja, a camisa amarela.
As origens das bolinhas
O visual inconfundível da camisa — fundo branco cravejado de bolinhas vermelhas — tem histórias curiosas por trás. Uma das versões mais populares associa a escolha ao primeiro patrocinador da premiação em 1975: a marca de chocolates Poulain. As bolinhas seriam chocolates. Mas essa teoria nunca foi confirmada oficialmente. Nem mesmo uma embalagem parecida.
Outra explicação, com mais robustez histórica, aponta para o gosto pessoal de Félix Lévitan, então diretor-adjunto do Tour, reconhecido por seu trabalho em captar mais recursos financeiros para a prova. Provavelmente, foi ele quem vendeu a ideia do patrocínio para a Poulain. E como era fã do ciclista francês Henri Lemoine — conhecido por competir nos velódromos com uma camisa branca de bolinhas, emplacou o modelo, inspirado nas camisas dos jóqueis nos hipódromos.

Henri Lemoine, inspiração para a camisa de bolinhas
Lendas das montanhas
O título de Rei da Montanha é um dos mais celebrados entre os fãs de ciclismo. Richard Virenque, com sete conquistas, é o maior detentor da camisa de bolinhas. Um ídolo francês apesar de toda sombra do doping.
Antes dele, nomes como Lucien Van Impe – o primeiro a usar a camisa de bolinhas – e Federico Bahamontes brilharam nas montanhas — este último venceu seis vezes a classificação, porém nunca vestiu a camisa, pois suas conquistas antecederam a criação da camisa.

1975, edição de estreia do maillot a pois no Tour de France: Lucien Van Impe foi o primeiro
Em 2024, foi o equatoriano Richard Carapaz quem chegou em Paris portando a Jersey de KOM. Até então, os sul-americanos só tinham vencido essa classificação com colombianos (Lucho Herrera 2x, Santiago Botero, Mauricio Soler e Nairo Quintana).
Ser o melhor nas montanhas nem sempre basta
Curiosamente, o líder da montanha nem sempre é o campeão geral. Inclusive, o primeiro campeão colombiano do Tour, Egan Bernal, não foi o Rei da Montanha, em 2019. Isso acontece pela dinâmica de disputa. Quem vai pela camisa de bolinha, muitas vezes, precisa pontuar nas primeiras montanhas do dia.

Pogacar em Paris com a camisa amarela e, ao lado, suas camisas de melhor jovem e Rei da Montanha
Nos últimos 25 anos, apenas cinco ciclistas conquistaram tanto a camisa de bolinhas quanto a amarela na mesma edição. Entre eles, Carlos Sastre (2008), Chris Froome (2015) e os excepcionais Tadej Pogačar (2020 e 2021) e Jonas Vingegaard (2022). Estes dois últimos protagonistas da edição de 2025. E já vestiram novamente a camisa de bolinhas este ano.
E para você, quem é o Rei da Montanha inesquecível?

Nairo Quintana venceu a classificação de montanha em 2013 e vestiu em etapas de outras edições, como 2021
Meio século depois de sua criação, a camisa de bolinhas permanece como um símbolo de resistência, estratégia e ousadia. Em um esporte muitas vezes pragmático, ela mantém o espírito atacante e envolvente de um ciclismo raiz.
Dos grandes duelos nas subidas aos aplausos do público apaixonado nas encostas dos Alpes, a camisa amarela carrega a alma do centenário Tour de France.